*Rangel Alves da Costa
Simbolizando passado e presente, ou o antigo
e o novo, estão a janela da frente e a janela de trás, depois da sala e após a
cozinha. Pela janela da frente vê-se a mocinha passando com roupa, num rebolado
só, querendo se mostrar mais aos outros do que a seu próprio destino. Pela
janela de trás avista-se a mocinha recatada, de vestida após os joelhos,
cabelos em traça, parecendo uma singela flor. Pela janela da frente vê-se a
motocicleta passando desenfreada, o carro em alta velocidade, o barulho e o medo.
Pela janela de trás avista-se o carro-de-bois passando com seu rangido lento, o
animal de carga levando frutas, uma carroça sem tempo de chegar e alguém
montado em um alazão. Pela janela da frente vê-se a pessoa apressada,
carrancuda, com cara de poucos amigos, sem um bom dia ou boa tarde. Pela janela
de trás avista-se a pessoa passando sorridente, com gestos cordiais e
cumprimentos de passo a passo, sem pressa de chegar nem de esquecer que avista
na caminhada. Pela janela da frente vê-se o mundo imenso e desconhecido, a vida
corrida e tudo de todos e de ninguém, rostos desconhecidos e pessoas que nunca
se conhecem. Pela janela de trás avista-se a paisagem bela, o canteiro florido,
o velho sentado num banco de praça. Mas de repente alguém vai e fecha a janela
de trás. E na frente também já não há mais janela. Tudo perigosamente exposto
ao mundo.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
Um comentário:
Por fim, o observador se torna observado. O passivo ator se torna personagem ativo no filme da vida, e expõe suas características. Em qual janela ele será retratado?
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