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sábado, 29 de maio de 2010

AO NORTE DO CORPO (Crônica)

AO NORTE DO CORPO

Rangel Alves da Costa*


Dependendo da situação de quem enxerga ou se enxerga, o norte do corpo é a região mais densamente povoada, com maiores atrativos e potencialidades e também aquela que mais apresenta interesse de exploração e principalmente desejo.
A partir das intenções do olhar, o norte do corpo pode ser simplesmente belo, de compleição física adequada ao possuidor, com proporções e estruturas que indiquem a normalidade, ou não, dessa parte da anatomia humana. Por outro lado, no olhar ávido, lânguido, desejoso, nesse norte de curvas e contornos reside todo o desejo sexual, toda a vontade de possuí-lo, todo o surgimento de uma série de sonhos, fantasias, intenções voluptuosas, tesão, sede avassaladora de tê-lo para múltiplas satisfações sexuais. Neste aspecto, o norte do corpo é região que precisa ser explorada para a obtenção de prazeres.
Ao norte do corpo há sempre uma lição que o outro quer sempre sentir, ver, conviver, aprender, acostumar e ter cada vez mais, fazendo do seu uso e abuso uma forma de posse, de propriedade e domínio. Muitas vezes, pessoas querem fazer do norte do outro algo que esteja sempre a seu bel-prazer, para ter contente assim que desejar. Nestas condições, um corpo que é tido como latifúndio e submetido ao jogo do explorador, por baixo do pano se deixa seduzir por possuidores e retirantes que vão, sem que o outro saiba, usufruindo furtivamente e sempre do que o senhor pensa que é só dele.
Esse norte do corpo é como livro que precisa ser aberto para aprender e sentir seus conceitos. Nunca houve e nem haverá analfabeto diante das lições do norte do corpo; poderá, sim, existir aqueles mais ou menos experientes, que são mais ou menos capacitados para a exploração dos conceitos, que são catedráticos no tema ou passageiros de primeira viagem. E surgirão então, biologicamente e com as derivações que cada um possa dar, as definições de corpo, sexo, prazer, orgasmo, enfim, um conteúdo adulto que há muito perdeu sua indicação como faixa etária de iniciação.
Mas é no contexto geográfico que as lições do norte do corpo mais apresentam interesse de aprendizagem, despertando em cada um a inexplicável capacidade pela exploração, manipulação e adequação de uso. Assim, antes de tudo se vê a paisagem, sendo as nádegas elevações num relevo de planície macia e apropriada para o semear e cultivar; sendo as coxas, pernas e pés os caminhos que todos querem percorrer tateando até chegar ao ponto mais buscado, que é o órgão sexual. De feição geográfica indefinida, os contornos sempre misteriosos do órgão sexual se adequarão sempre às intenções do explorador ou aventureiro.
Essa região ao norte do corpo quase sempre é de grande capacidade de exploração, mas sua intensidade de uso depende muito do seu proprietário. Em alguns casos, continua como uma região inóspita, praticamente abandonada, sem que qualquer estranho já tenha colocado as mãos ali; outras vezes é de acesso exclusivo ao dono do próprio corpo e a algum ou alguns visitantes escolhidos; e em outras situações é quase um destino turístico, de caminhos e portas abertas, onde cada um pode chegar e explorar ao seu modo e desejo, pagando uma pequena taxa de manutenção ou simplesmente de acesso livre e gratuito.
Quando o acesso ao norte do corpo ocorre nesta última condição, ou seja, de modo livre e sem restrições de uso, tal fato pode gerar danosas consequencias. O grande número de visitantes, a exploração pela simples exploração do destino, a má educação, a falta de higiene e o descuido, aliados à falta de manutenção adequada, acabam gerando a perda da qualidade do corpo, surgimento de doenças infecto-contagiosas e até a morte do dono e usuários.
Mas há mistérios nesse norte do corpo que ninguém consegue explicar: não há um só corpo que não tenha um norte que não desperte interesse em alguém. Seja magrinho, gordinho, moreno, lourinho, mais feio ou menos feio, bonito ou simplesmente atraente, sempre haverá um olhar que começa a desejar e um outro corpo com um outro norte que começa a pedir, até isso se transformar em realização, concretizada no ato sexual.
Como se chama esse norte do corpo? A boca não diz, muitas vezes nem tem tempo de dizer, mas os olhos sabem muito bem a que paraíso quer chegar.




Advogado e poeta
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

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