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terça-feira, 11 de maio de 2010

SER SERTÃO: DA ARTE DA POLÍTICA E DA POLITICAGEM – IV

SER SERTÃO: DA ARTE DA POLÍTICA E DA POLITICAGEM – IV

Rangel Alves da Costa*


Dois dias antes da eleição, o candidato que não tiver mais dinheiro pra gastar pode se considerar derrotado, perdidinho da silva. Mesmo que tenha feito o máximo o tempo todo todo, acima de suas posses e do seu alcance, pela maioria das pessoas, se não tiver dinheiro na reta final pode entregar o jogo, pois os que se diziam amigos e eleitores certos vão votar, com toda a certeza desse mundo, no seu adversário, e de graça, sem ganhar um tostão nem uma feirinha, só na cara safada mesmo.
No dia da eleição, a votação já começa com grande vantagem para o candidato da situação, para o pleiteante do governador. A justiça está do seu lado, tudo já foi tramado para protegê-lo e assegurar sua vitória. Faltarão veículos para transportar os eleitores das localidades onde o adversário tem maior número de votantes. O próprio candidato corre o risco de ser detido pela falsa acusação de compra de votos. Se não for preso logo cedo, mais tarde será acusado de estar fazendo boca de urna. E dá no mesmo: vai ser e recolhido e colocado à disposição do juiz que já tem tudo tramado com o outro candidato.
Mesmo que as aberrações cometidas pelo candidato do governador sejam escancaradas e o outro esteja sendo penalizado pelo que de fato não cometeu, e a justiça eleitoral passe a ser vista por alguns como conivente e até culpada por toda a situação criada, mesmo assim o juiz lavará suas mãos e dirá que nunca, jamais em tempo algum na história do município, houve uma eleição tão limpa e democrática, com tudo correndo na maior normalidade.
Se a urna de votação é eletrônica - o que ainda é um bicho de sete para muitos sertanejos -, tecla-se o número de um candidato e aparece a fotografia do outro. Se o eleitor reclama, os mesários afirmam que não se preocupe não que foi somente um erro da máquina, mas que o seu voto pra quem realmente ele digitou o número. Tudo mentira, a mais deslavada mentira! Um lado desespera-se; o outro sabe que já está eleito. E assim será demonstrado, mesmo que a fraude esteja diante dos olhos da justiça. Mas coitada, ela é cega!
Nenhum governante, uma vez assumido o governo de forma fraudulenta, poderá cumprir seu mandato de forma honesta. Ora, a desonestidade já nasceu no pleito, na votação. Se todos os meios usou para chegar onde chegou, quando se vê amparado pelas prerrogativas que o cargo lhe propicia e cercado dos benefícios de todos os lados, certamente que continuará com suas tramas e tramóias e fará da máquina administrativa um vaca leiteira de um pasto seu, mamando nas suas tetas até o fim. E não somente isto, porque ao seu lado sempre estarão aqueles bezerrinhos escolhidos a dedo, gordinhos e reluzentes até no pelo, que são certos secretários e auxiliares.


Terminada a explanação, o velho retirou-se imediatamente. Seus olhos transpassavam ódio; suas faces, uma vermelhidão raivosa. Outros também estavam assim, revoltados pelas fétidas entranhas da política e da politicagem no sertão. Sei não, mas logo viria outra eleição...



Advogado e poeta
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

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