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A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



quinta-feira, 27 de maio de 2010

SER SERTÃO: DA ARTE DA REVOLTA – V

SER SERTÃO: DA ARTE DA REVOLTA – V

Rangel Alves da Costa*



Em meio ao caos e ao descaso, o que alenta e fortalece a luta contra a continuada exploração é o despertar da consciência crítica que surge como uma verdadeira luz em determinadas classes sociais. Determinados setores, formados por agentes que como ninguém conhece a marginalização de um povo na própria pele, partem para a luta organizada, e apesar de todas as mortes não esmorecem, não se entregam e partem sem cessar contra a exclusão social. Digo da exclusão vista pelos olhos e sentida na pele, como ferida braba, e não essa exclusão enfeitada dos discursos dos políticos. E, afinal de contas, esse povo engravatado e afeito à roubalheira sabe lá o que é exclusão social, seu real significado? Palavras, nada mais que palavras.
Quero repetir uma coisa, dizia o velho: Quando falo na sociedade organizada, falo de coisa séria, de gente que realmente se organiza com seriedade para resolver um grãozinho nas montanhas de problemas sociais que existem, desde o sul até aqui perto de nós, nas brenhas desse sertão de meu Deus. Por isso é que repito que essa classe de gente que forma o comando dos sem terra, o tal do MST, e até muitos daqueles que entram no meio com a carinha de excluído, na verdade não vale o que o gato enterra, não vale nada, não tem serventia alguma para o sertanejo que age com seriedade. Somente para gente como eles, que vai entrando no que é dos outros, diz que é pra plantar e depois vai negociar o pedaço de terra que recebe. Quando continua na terra se tornam uns parasitas, vivendo das esmolas dos governantes, roubando cargas de caminhões e deixando rastros de tudo que é ruim por onde pisam. Esse povo deve ter muita sorte mesmo, pois vá um da gente colocar uma bainha sem faca na cintura pra ver se não vai preso? Eles não, pois invadem os prédios públicos, esculhambam com tudo e ainda saem pelas ruas de armas em punho que ninguém diz nada. É por isso que esse país será sempre visto como carente de seriedade. O país que não se faz respeitar não quer que ninguém o respeite. Isso é um absurdo, mas eles continuam fazendo do que fazem e o governo mandando dinheiro, continuam armados e ameaçando a todos e o governo mandando dinheiro pra eles... É um verdadeiro absurdo.
Mais uma vez acharam por bem fazer com que o velho parasse um pouco com sua narrativa, pois com a raiva que estava poderia ter um pirapaqui a qualquer instante. Acendeu o cachimbo, baforou um pouco e continua na sua peleja verbal.
Muitas vezes, querendo alcançar o poder subindo pelo rabo da miséria do povo, certos partidos políticos, principalmente os que não estão no poder, arvoram-se no direito de possuir o elixir contra todos os males e nos palanques da vida vivem a vomitar promessas para iludir os desatentos e os despossuídos de senso crítico. Ora, todos sabem que enquanto o poder não é alcançado esses partidos torcem e fazem questão de jamais encontrar um prato de um pobre cheio de comida, um salário que dê para viver com dignidade, um pedaço de terra sendo plantado por um trabalhador para a subsistência de sua família.
Não querem o bem porque não vivem sem o mal para criticar, para dizer que somente eles podem trazer dignidade para as classes desfavorecidas. Esquecem, entretanto, de aprender as lições tantas vezes ensinadas por setores que se organizam e conseguem minimizar o sofrimento de muitos através de estratégias que priorizam verdadeiramente o homem, o ser humano perante suas necessidades, e não o eleitor em potencial. Como agem, mostram-se realmente partidos: uma parte pra mim e a outra também. O tolo não come do bolo. E precisa dizer o nome do tolo nessa história toda?...
Contudo, o que doi mais é sentir que muitos trabalhadores são usados por partidos políticos, até por sindicatos que dizem em suas defesas, em nome de uma causa nobre, quando a finalidade maior, todos sabem, é a de alienar politicamente para tirar dividendos eleitorais e até financeiros. E isto é maquinação das mais conhecidas.
Estrategicamente, quadros ou integrantes dos partidos são enviados para o interior; são detectadas as mais pobres situações de pobreza, podemos dizer assim; são feitas reuniões, um trabalho exaustivo de induzimento na mente dos trabalhadores; e quando estes ficam desarmados de quaisquer argumentos, lhes são entregues outras armas para que façam tudo aquilo que os partidos desejam. E então começam a falar mal da pobreza, criticar a pobreza gerada nos outros, mas não procuram resolver, e parece até que esquecem, da sua própria pobreza.


continua...




Advogado e poeta
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

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