*Rangel Alves da Costa
Serei logo
direto. O que não é reparado vai sendo destruído aos poucos. O que não é
preservado possui muito menos tempo de existência. O que é simplesmente
abandonado ainda mais, pois morre mais rapidamente nas suas entranhas.
Na vida,
tudo que seja útil precisa ser preservado. Ora, o tempo enferruja o ferro, a
maresia destrói as âncoras, a pedra dilacera e se transforma em pó. E mais
ainda quando se trata de construção humana, de paredes e portas, onde tudo se
fragiliza mais rapidamente. Mesmo que seja suntuoso e imponente, em escombros
se tornará acaso não haja o devido cuidado.
Como dito,
assim também com a vida humana, material, histórica e cultural. Em tudo. Os
retratos antigos mostram bem isso. E assim vinha acontecendo com a Capela de
Santo Antônio do Poço de Cima, em Poço Redondo, no alto sertão sergipano.
Mesmo
sendo a primeira igreja construída nos primórdios da história do município, ainda
assim não teve, por muito tempo, sua importância reconhecida. Chegou a sumir no
meio do mato, quase é engolida pela voracidade do tempo, não faltou muito para
se tornar em restos lançados ao chão. Hoje essa situação mudou, e sem outros
riscos ou ameaças. Agora está preservada e ainda mais bela pela iniciativa
popular.
Por quê?
Simplesmente pelo fato de que pessoas da comunidade, jovens como Enoque Correia
e João Vitor, dentre outros, abençoados e impulsionados pelo Padre Mário,
chamaram para si a incumbência de não deixá-la morrer. Quando os jovens se
lançaram no intuito de salvação daquele templo primeiro, então tudo se mostrou
realmente possível.
Mas
recontando um pouco de tudo. Não faz muito tempo que a igrejinha do Poço de
Cima, como é mais conhecida, estava em situação verdadeiramente desalentadora.
Jogada ao abandono, assim como uma tapera velha onde os seus moradores
simplesmente fecham as portas e somem. Estava praticamente em ruínas, a todo
tempo sob o risco de desabar de vez e tornar-se apenas escombros. O mato, o
tempo e o abandono, iam tramando seu fim.
Ao longe,
ao invés da fachada, avistava-se apenas a mataria tomando conta de tudo. Os
bichos do mato e o gado, além de garranchos e folhagens levados pela ventania,
eram os seus únicos visitantes, ainda que ao lado muitas sepulturas estivessem
ladeadas. O povo tinha até medo de se aproximar. Até mesmo os familiares
daqueles sepultados ali pouca ou nenhuma visita faziam. A igrejinha estava
existindo apenas no nome e na memória de alguns. Porém tudo com dias contados.
Por que
toda essa transformação? Por que hoje em dia se constitui em paisagem bonita e
até prazerosa de visitação? Por que a comunidade retornou ao seu meio e aos
ofícios de devoção e fé? Por que as celebrações na igrejinha se tornaram
constantes e concorridas? Por que atualmente há missas, novenas, procissões e
festejos religiosos, se o seu tempo de existência já estava com dias contados?
Simplesmente
pelo já relatado. Acaso não existisse a sensibilidade, a preocupação e a ação
humana, certamente que somente as cinzas da história restariam na igrejinha.
Ela renasceu da quase morte e tão bela está por que naqueles jovens aflorou o
idealismo tão corajoso: “Não podemos deixar morrer parte de nossa História!”.
E não
deixaram mesmo. A semente lançada e que tão belamente frutificou, deveria, isto
sim, servir de motivação para que o poder público municipal o mesmo fizesse com
outras feições da história de Poço Redondo que estão morrendo. Por toda a
municipalidade existem históricas construções na mesma situação e predestinadas
ao mesmo fim, acaso apenas vá se deixando pra lá.
Será que a
administração municipal nada pode fazer para evitar que outra parte da história
do Poço de Cima desabe de vez com as últimas casinhas ainda existentes? Seria
tão difícil assim firmar parceria com seus proprietários para que uma “mão de
barro” lançada pudesse salvar o que resta naquelas antigas moradias? E as
construções primorosas e seculares de Curralinho, Bonsucesso e outras
povoações?
Já
perdemos (acreditem!) a Gruta do Angico para Piranhas e os empresários, numa
usurpação jamais contestada por quem de direito. Já perdemos Cajueiro para os
forasteiros. Já perdemos Curralinho para o abandono. E quanto Poço Redondo
ainda tem que perder para que nossas riquezas comecem, enfim, a serem
preservadas?
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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