*Rangel Alves da Costa
O tempo
vai nos ensinando demais. E em Poço Redondo tal livro do tempo vive aberto,
escancarado, mostrando a todos o que é preciso ser visto e aprendido. Mas quem
quer aprender?
O tempo
mostra, aponta, só falta entrar na pessoa, e ainda assim esta parece nada
aprender. Será que é tão difícil assim avistar as mazelas, sentir o abandono,
vivenciar as desilusões e as desesperanças?
Será que
certas pessoas somente se contentam em andar com tapa-olhos ao modo dos
animais. Chama-se antolhos ou “tapa-olhos” aquele acessório colocado na cabeça
dos burros para que não olhem para os lados, para que não percebam a existência
de outras realidades ao redor.
Tem muita
gente em Poço Redondo usando isso. Tem muita gente usando não só “tapa-olhos”
como “tapa-vergonha”, “tapa-caráter”, “tapa-honestidade”. Tapa tudo.
Tem muita
gente em Poço Redondo que já se submeteu de tal modo que as moscas lhe parecem
borboletas, que as muriçocas lhe parecem passarinhos, que as podridões e os
lixos espalhados nos canteiros são como flores num jardim.
Que
miséria humana que pessoas até letradas e estudadas se submetam às cegueiras da
conveniência! Que tempos são esses, meu Deus, que as pessoas até brigam na
defesa do erro, do que está escancaradamente desconcertado, da mentira, do
abuso em tudo e sobre tudo?
E mais:
sendo açoitadas e chicoteadas, sendo ferroadas e submetidas, mas ainda assim
sorridentes, passivas, escravizadas por interesses. Será que o tempo nada lhes
ensina?
Não.
Logicamente que não. Para estas, o vale tudo é na realidade presente, como se o
amanhã sequer existisse. Para estes, importa somente o seu ganho no tempo
presente, a sua vergonhosa ração no tempo presente, e nada mais. E os outros
que se explodam!
E o resto
da população que sofra, que morra, que vá se lascar! Muita gente de Poço
Redondo - e com fingida cara de bondade - neste momento age assim.
Em defesa
de seus interesses, simplesmente negam o inegável, defendem o indefensável, até
batem na mãe e no pai se estes disserem que há cheiro de podridão neste reino
sertanejo.
Mas nada
como esperar o tempo do Eclesiastes, eis que tudo passa, tudo se transforma. O
irrefutável que surge para mostrar a verdade onde ela estiver e com o disfarce
que estiver.
E amanhã,
estes mesmos que vivem somente para o tempo presente, ou que vivem aplaudindo a
chibatada no lombo do outro, estarão se perguntando por que estão sendo
rejeitados, esquecidos, evitados.
E vale pra
tudo: amizade, voto, tudo. Por isso a indagação: vale a pena ser um Fausto e
vender a alma ao mal para ter tudo agora? Creio que não, pois há um amanhã, há
uma vida inteira ainda a ser vivida.
Que o
tempo lhes sirva de lição!
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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