*Rangel Alves da Costa
Somente
quando se apagam as Luzes da Ribalta é que se torna possível compreender a
força de versos assim: “Vidas que se acabam a sorrir, luzes que se apagam, nada
mais. É sonhar em vão, tentar aos outros iludir, se o que se foi pra nós não
voltará jamais. Para que chorar o que passou, lamentar perdidas ilusões, se o
ideal que sempre nos acalentou renascerá em outros corações...”.
Charles
Chaplin, o autor destes traduzidos versos, tinha razão: Não devemos chorar o
que passou nem lamentar as perdidas ilusões, se o que o que se foi não voltará
jamais. É um hino à resignação, à compreensão das realidades, à aceitação dos
inevitáveis da vida. Mas que não afasta, contudo, o permanente cultivo da boa
memória, da recordação proveitosa, da lembrança como entrelaçamento ao que
tanto gostou.
Um hino
que também fala das perdas, das rupturas, dos adeuses, das despedidas, das
partidas. Mas a perda do profundo e do significativo, do verdadeiramente
enraizado no coração, daquilo que valeu a pena amar e compartilhar a vida, e
não da mesquinhez do vulgar e fútil, das relações de momento e do que sempre
foi frágil na essência e no seu tempo de existência.
Para dizer
que dói a perda das grandes coisas, daquilo que se rompe ao coração como o seu
próprio pulsar, e não do banal, do frívolo, da insignificância. Para dizer que
deixar de chorar pela perda não significa esquecer o que deixou de existir.
Quem há de esquecer a existência perdida de um ente amado? Por outro lado, vale
a pena se martirizar pelo nó desfeito em relações casuais, em ilusões fingidas?
Somente o
grande, o importante e significativo, deve permanece além da lágrima. Não mais
chorar, não mais lamentar, apenas sentir na alma que a distância não provocou
esquecimento. O resto, o restante sem partida e sem distância, apenas fazer de
conta que sequer existiu. Não mais viver as ilusões passadas e deixar que os
frutos do que merecem acalentem os seus corações.
Sim, muita
falta pode fazer o simples ato de desistir. Mas desistir daquilo que não mais
possui força para persistência. Amamos os barcos no cais, mas todos eles
adentram ao mar e somem. Amam as revoadas e os vermelhos do entardecer, mas
tudo se vai, tudo some, tudo passa. Amamos o sonho sonhado na esperança de
acontecer, mas de repente acordamos para outras realidades. Nada acontece
segundo os nossos desejos. E nada permanece segundo o nosso querer.
Vão-se a s
estações, vão-se as folhas do calendário, vão-se os dias. O que era já não mais
será. Até mesmo o segundo atrás não poderá ser mais alcançando. Amamos e
perdemos, e tudo dói demais. Mas fazer o que? Já não somos mais o que somos no
instante passado. E tudo passa, mesmo que rasgando as entranhas do desejo de
permanência. É deixar seguir, apenas. E não mais chorar. Não mais chorar pelo
que passou.
Que não
lamentemos mais as perdidas ilusões.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário