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quarta-feira, 17 de abril de 2019

ZÉ CIRILO, O HOMEM QUE A CANGACEIRA DADÁ QUERIA OUVIR ASSOBIAR DÁ ADEUS



*Rangel Alves da Costa


Poço Redondo, no sertão sergipano, perdeu hoje, aos 101 anos, um dos maiores personagens de sua história: José Cirilo dos Santos.
A Família Cirilo, aliás, que tantas raízes e frutos bons floresceu ao longo dos anos pelos rincões sertanejos, bastando citar alguns nomes: Ireno, Pai Né, Aduilson, Marietinha e outros irmãos.
Pois bem. José Cirilo, ou apenas Zé Cirilo, era dessa seara de pessoas honradas e distintas de Poço Redondo. Ao lado da saudosa Doce, gestou um seio familiar com filhos de igual distinção, dentre os quais o saudoso Zé Rivaldo, Edileuza, Izo, Aduilson, Mazé, Djanira, Marineide e outros.
Homem da terra, da vida simples, sempre foi mais apegado aos afazeres da digna sobrevivência. Viveu muitos anos, mas os anos vividos como se fossem num singelo e humilde calendário.
Mas também personagem histórico desde os tempos do cangaço, pois aquele assobiador que ao longe teve o assobio apreciado pela famosa cangaceira Dadá, companheira de Corisco, mas que, amedrontado, não conseguiu que mais nada saísse de sua boca quando ordenado que continuasse sua melodia, no episódio que fiou conhecido como A Vingança Cangaceira e a Morte dos Soldados Sisi e Tonho Vicente, pelos arredores da Estrada de Curralinho, onde hoje há As Cruzes dos Soldados.
Tal episódio envolvendo Zé Cirilo foi narrado com maestria por Alcino Alves Costa em seu livro “Lampião Além da Versão – Mentiras e Mistérios de Angico”. Assim relata o saudoso escritor:
“O primeiro a receber voz de prisão foi o pai de Zabelê, depois foi à vez de Dorcelino, Melonia, Mané Azedinho, Antônio Lucas, Enoque, Baiá, Antônio Silva, Ercílio de Lulu, Virgilio Rozendo, João Mulatinho, que mais tarde seria o cangaceiro Delicado, e por último vem Zé Cirilo, um dos filhos de João Cirilo; o rapaz viaja montado num jumento, com serenidade, sem nada desconfiar, assobia antiga canção. Dadá escuta-o com atenção. Fica impressionada com a competência do assobiador e ao prendê-lo ordena-lhe que continue assobiando a mesma cantiga. Apavorado e pensando que os cangaceiros iriam judiá-lo, ou até mesmo matá-lo, o moço, apesar do grande esforço que fez para atender ao pedido da famosa bandida, não conseguiu que de sua boca saísse nem um único piu, quanto mais assobiar. Não tinha forças. Não tinha coragem. Estava esmorecido, sem ação e sob os risos da cangaceirada; o moço teve a sorte de ter sido compreendido por Dadá que não insistiu com seu pedido, também sorrindo com o pavor estampado no rosto do mocinho de Poço Redondo”.
Mas hoje Zé Cirilo partiu, deu adeus aos seus, rumando aos horizontes celestiais. Que a melodia no seu assobio seja lá em cima apreciada para festa dos céus.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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