*Rangel Alves da Costa
Poço
Redondo, no sertão sergipano, perdeu hoje, aos 101 anos, um dos maiores
personagens de sua história: José Cirilo dos Santos.
A Família
Cirilo, aliás, que tantas raízes e frutos bons floresceu ao longo dos anos
pelos rincões sertanejos, bastando citar alguns nomes: Ireno, Pai Né, Aduilson,
Marietinha e outros irmãos.
Pois bem.
José Cirilo, ou apenas Zé Cirilo, era dessa seara de pessoas honradas e
distintas de Poço Redondo. Ao lado da saudosa Doce, gestou um seio familiar com
filhos de igual distinção, dentre os quais o saudoso Zé Rivaldo, Edileuza, Izo,
Aduilson, Mazé, Djanira, Marineide e outros.
Homem da
terra, da vida simples, sempre foi mais apegado aos afazeres da digna
sobrevivência. Viveu muitos anos, mas os anos vividos como se fossem num
singelo e humilde calendário.
Mas também
personagem histórico desde os tempos do cangaço, pois aquele assobiador que ao
longe teve o assobio apreciado pela famosa cangaceira Dadá, companheira de
Corisco, mas que, amedrontado, não conseguiu que mais nada saísse de sua boca
quando ordenado que continuasse sua melodia, no episódio que fiou conhecido
como A Vingança Cangaceira e a Morte dos Soldados Sisi e Tonho Vicente, pelos
arredores da Estrada de Curralinho, onde hoje há As Cruzes dos Soldados.
Tal
episódio envolvendo Zé Cirilo foi narrado com maestria por Alcino Alves Costa
em seu livro “Lampião Além da Versão – Mentiras e Mistérios de Angico”. Assim
relata o saudoso escritor:
“O
primeiro a receber voz de prisão foi o pai de Zabelê, depois foi à vez de
Dorcelino, Melonia, Mané Azedinho, Antônio Lucas, Enoque, Baiá, Antônio Silva,
Ercílio de Lulu, Virgilio Rozendo, João Mulatinho, que mais tarde seria o
cangaceiro Delicado, e por último vem Zé Cirilo, um dos filhos de João Cirilo;
o rapaz viaja montado num jumento, com serenidade, sem nada desconfiar, assobia
antiga canção. Dadá escuta-o com atenção. Fica impressionada com a competência
do assobiador e ao prendê-lo ordena-lhe que continue assobiando a mesma
cantiga. Apavorado e pensando que os cangaceiros iriam judiá-lo, ou até mesmo
matá-lo, o moço, apesar do grande esforço que fez para atender ao pedido da
famosa bandida, não conseguiu que de sua boca saísse nem um único piu, quanto
mais assobiar. Não tinha forças. Não tinha coragem. Estava esmorecido, sem ação
e sob os risos da cangaceirada; o moço teve a sorte de ter sido compreendido
por Dadá que não insistiu com seu pedido, também sorrindo com o pavor estampado
no rosto do mocinho de Poço Redondo”.
Mas hoje
Zé Cirilo partiu, deu adeus aos seus, rumando aos horizontes celestiais. Que a
melodia no seu assobio seja lá em cima apreciada para festa dos céus.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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