*Rangel Alves da Costa
No interior sergipano ainda prevalece o
costume de comer peixe desde a quarta-feira santa. Arroz com coco, feijão com
coco, o coco acompanhando todo tipo de comida. Dizem que é pecado comer carne
vermelha, e por isso mesmo a tradição do pescado é mantida. Daí que pelas ruas
e esquinas, pelas calçadas e nas distâncias, tudo cheira a peixe. Ao meio-dia
então, pois mais parecia estar ao lado de uma panelada ao coco. Mas é somente
isso que ainda resta da tradição. As rezas antigas são poucas e sempre nos
afastados do centro da cidade. Nas igrejas já não são comuns os ofícios
próprios para o período. Os jejuns continuam em poucas pessoas, os lutos
também. O comércio está fechado, mas os bares não, em sua maioria. Daí um
festim de cachaça por todo lugar. A bebedeira parece ainda maior que noutros
dias. Mas nada diferente do costume tão enraizado no brasileiro. Se disser que
é pecado é pior, pois faz muito mais. Se disser que não pode é pior, pois corre
o risco de ser zombado. Então estes fazem de conta que é uma sexta comum, um
feriado qualquer, e se esbaldam. Coisas do tempo novo, da modernidade. Apenas a
demonstração que a religiosidade há muito se distanciou de grande parte da
juventude. O que importa é a farra, a bebedeira, a mundanice.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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