SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



quarta-feira, 10 de abril de 2019

NAQUELA CASA



*Rangel Alves da Costa


Rua Divina Pastora, 518, Centro de Aracaju - Recentemente registrei a casa em fotografia, e ainda mostra quase a mesma feição de uma residência muito importante para a vida de Poço Redondo, mesmo estando localizada na capital sergipana.
Muitas pessoas de Poço Redondo certamente não se recordarão do endereço citado. Os mais jovens sequer sabem de sua existência. Mas muita gente sim. E por diversos motivos. O primeiro é que neste local por muitos anos morou a família de Aloísio Azevedo Silva e Maria Marques, ou simplesmente Aloísio e Mariquinha. E também os seus filhos Railda, Aloisinho, Rose e Anselmo (Teteu).
Aloísio, para muitos tio Aloísio ou padrinho Aloísio, era um aracajuano que um dia se enamorou e casou com uma sertaneja de Poço Redondo e depois disso abraçou e amou o lugar como se fosse seu berço de nascimento.
Possuía casa na cidade e também uma propriedade, hoje comandada por seus filhos Aloisinho e Teteu, denominada Santa Luzia (pertinho da sede municipal, na estrada em direção a Canindé).
Já Maria Marques, ou simplesmente a tia Mariquinha de todos, vinha de portentosa raiz familiar sertaneja, irmã de Emeliana, Conceição, Osana, Izabel, Rosinha, Cordélia, Mãezinha e outras, também do cangaceiro Zabelê e mais outro.
Tanto Aloísio como Mariquinha ainda hoje são recordados com estima e respeito por todo o sertão sergipano. E Poço Redondo aprendeu não só a amar como a dar a benção a este saudoso casal.
E não seria para menos, pois duas pessoas que tinham seus corações a serviço de Poço Redondo, de toda a gente do lugar, independente que fosse parente ou não. Nas Semanas Santas de antigamente, era Aloísio de Mariquinha quem fazia farta distribuição de peixe e coco aos mais carentes.
Sua casa na capital era um verdadeiro ponto de apoio a todos que se dirigissem a Aracaju, fosse para uma consulta médica, um procedimento cirúrgico ou qualquer outra situação. Muitas vezes, a casa era completamente tomada por sertanejos e todos recebendo acolhida, alimentação e dormida.  
E também foi moradia de tantos outros filhos de Poço Redondo que um dia foram estudar na capital, principalmente familiares de Tia Mariquinha. Não me recordo agora se Tio Pedrinho, recentemente falecido, morou neste endereço ou na Rua de Siri, mas Nagel, Rangel, Pelé e tantos outros, fizeram da moradia seu segundo lar e porta aberta para os estudos na capital.
Também de boa recordação aquela imagem da marinete de Seu Vavá parando bem defronte à residência do casal. A cada parada uma leva de pessoas, mercadorias ou envelopes. Seu Vavá, sempre amigo da família, tornava-se o emissário entre o sertão e a cidade.
Foi assim que adiante daquele muro eu convivi alguns anos de minha vida como estudante. Estacionada à frente ou dentro da garagem, a famosa Brasília de padrinho Aloísio. E lá dentro, dentre as paredes de um mundo imenso, a alegria de ter vivido e compartilhado daquela existência muito mais humana e feliz.
Por muitos anos, o casal ali conviveu recebendo o sertão portão adentro. Depois a residência foi vendida e todos se mudaram para a Rua Marechal Horta Barbosa, esquina com Hermes fontes, no Grageru. Um tanto distante do centro da capital, mas ainda assim com as mesmas portas abertas a todos.
Retalhos, apenas retalhos desse mundo de padrinho Aloísio e tia Mariquinha, de meus primos Railda, Aloisinho, Rose, Teteu, mas que também foi meu. E também de todo Poço Redondo.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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