*Rangel Alves da Costa
Tenho que matar alguma coisa. Tenho que
matar. O homem não. O ser humano não. Não vale a pena sujar a mão com ser tão
vil. Humano não, pois desperdício de tempo me preocupar com o que não vale a
pena nem lembrar. Mas tenho que matar alguma coisa. E certamente serei apenas
um reincidente no ato criminoso, pois muito já matei. Já matei o tempo, já
matei a hora, já fiz o dia morrer de tanto me esperar. Já matei a cobra de
raiva quando não passei na beirada de estrada. Já matei a flor por esquecer de
despejar um pouco d’água. Já matei aula e já matei a saudade com um copo de
uísque. Mas agora quero matar outra coisa. Eu tenho que matar alguma coisa. Já
matei mosca, muriçoca, bicho rastejante. Já matei tanta coisa que quase não sei
mais o que matar. Mas estou ouvindo um grilo chato, enjoado, insuportável, que
cricrila sem parar. Vou ali...
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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