*Rangel Alves da Costa
Quando eu estou bem o meu jardim amanhece
verdejante. Quando eu acordo contente o meu jardim é avistado florido. Quando a
paz reina sobre mim, então meu jardim fica povoado de cores, aromas e vidas.
Muitas vezes, quando amado estou, o meu jardim é campo de passarinhos, de
borboletas, de colibris. E não há outono que afaste tanta pujança de
encantamento. Mas hoje meu jardim amanheceu entristecido, outonal, sem pétalas
vivas, sem abelhas ou beija-flores. Rasguei mil folhas do caderno e não
consegui escrever um poema. Um simples bilhete de poucas linhas pareceu a coisa
mais difícil do mundo de ser escrito. E não escrevi. Os velhos baús abertos e
as velhas fotografias na parede, cartas e selos amarelados de tempo, nostalgias
e saudades. Meu amor me desamou. A saudade amorosa se transformou numa lágrima
triste. Avisto as folhas secas entrando pela janela como se fossem recados
desalentados. A taça de vinho caiu-me da mão e não há mais incenso. O Salmo já
não me diz nada nem a prece me traz alento. Chove lá fora. Agora é de breu
fechado. Ouço o barulhar dos pingos caindo, porém tenho a certeza que o meu
jardim não amanhecerá florido.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário