*Rangel Alves da Costa
Recentemente,
mais precisamente ao final do mês de dezembro passado, expressivos membros da
Família Carvalho, da baiana Serra Negra (Pedro Alexandre), estiveram visitando
o Memorial Alcino Alves Costa, na sergipana e sertaneja Poço Redondo. Contudo,
como se uma família estivesse reencontrando seu próprio lar, vez que Poço
Redondo e Serra Negra são unidos e enlaçados por raízes profundas, até mesmo
familiares.
De forma
mais contundente no passado, a verdade é que como se não existissem limites
entre as duas localidades. Para uma ideia da influência de Serra Negra sobre as
terras sergipanas, somente os irmãos João Maria de Carvalho e Piduca Alexandre,
filhos de um potentado senhor chamado Pedro Alexandre (que acabou dando nome ao
município baiano), eram donos de mais de vinte grandes fazendas em Poço
Redondo, e todas imensas, verdadeiros latifúndios.
Também foi
de pujança a influência política e de proteção do Coronel João Maria de
Carvalho na vida e destinos do sertão sergipano. Numa época em que o caçador de
cangaceiros e perseguidor de inocentes, o famoso comandante Zé Rufino (com
quartel baseado em Serra Negra), prometia perseguir e dizimar os
poço-redondenses tidos como coiteiros do bando de Lampião, levantou-se a voz do
coronel João Maria simplesmente para dizer: “Se na estrada apontar alguma
pessoa vinda de Poço Redondo, então faça o favor de fazer de conta que está
indo pra Jeremoabo. Não quero nem admito que incomode um só sergipano que venha
em minha direção”.
Ora, Zé
Rufino, comendo na mão e lambendo as botas do coronel baiano (que também era
seu compadre e fiel cumpridor de suas ordenanças), nada tinha a fazer senão
baixar a cabeça e esquecer os seus ódios. E acentuava o coronel: “Mexeu com
gente de Poço Redondo está mexendo comigo. Entonce é melhor nem se meter a
besta”. Durante o período de maior incidência cangaceira em Poço Redondo e o
governo estadual ordenava que as famílias deixassem seus lares como forma de se
protegerem de possíveis ataques ou confrontos entre bandoleiros e volantes, era
em direção a Serra Negra que a maioria seguia. Assim aconteceu com meus avôs
Ermerindo e Emeliana. E muitas famílias e pessoas continuaram em terras
baianas.
E assim as
amizades eram firmadas e fortalecidas. Tanto assim que de repente, em
verdadeira comitiva montada em cavalaria de ponta, pelos caminhos de Poço
Redondo despontava o coronel baiano em direção à casa de algum amigo. Chegava,
desmontava e se aboletava em rede para receber as visitas. E dali mesmo
ordenava a vida naquele mundão sertanejo. Sua estadia preferencial era na casa
de Zé de Lola e Dona Quininha, ainda que por todo lugar encontrasse uma porta
acolhedora, principalmente pelo fato de que a maioria dos vaqueiros da região
lidava ou em suas ou nas propriedades de seu irmão Piduca.
Tempos
após foi a vez de dois primos baianos abraçarem Poço Redondo como terra amada:
Heraldo de Carvalho, filho do coronel João Maria, e Evaldo de Carvalho,
sobrinho deste. Duas maravilhosas figuras humanas que deixaram até lendas em
suas visitas. Dois famosos e prestigiados políticos (Heraldo e Evaldo foram
prefeitos muitas vezes de Serra Negra), mas que chegavam a Poço Redondo e se
comportavam apenas como amigos e festeiros.
A casa de
Bastião Joaquim era a porteira aberta e acolhedora para os primos baianos. O
filho do Coronel João Maria, ou Dr. Heraldo, como sempre era chamado, trazia
sempre seu cavalo branco, de valor afortunado, nas suas estadias sergipanas.
Montado no seu portentoso, então desfilava pelas ruas da cidade em época de
festas, principalmente da Festa de Agosto. E certa feita cismou de entrar no
bar de Delino, durante um forró lotado de gente, e entrou. Ora, o povo
sertanejo já conhecia demais aquele jeito festeiro de ser e tudo ficou na
normalidade, com o cavalo ao lado do balcão e o seu dono mandando descer uma
garrafa de uísque e cervejada para quem quisesse beber.
Desse
modo, os Carvalho da Serra Negra sempre foram como filhos e irmãos de Poço
Redondo. Não somente a família como toda a população. Tem gente de Poço Redondo
que ama Serra Negra na mesma medida, e vice-versa. As velhas raízes que por lá
continuam, também são raízes espalhadas nos sertões sergipanos. As novas raízes
vingadas, gestadas daquele sangue de luta, continuam abraçando e amando Poço
Redondo, principalmente um sobrinho-neto do velho coronel baiano: Orlando de
Carvalho.
Este
reformou a casa antiga de seu pai João de Ioiô em Curralinho e quase todo fim
de semana está se espelhando nas águas do rio, sempre ao lado de sua esposa, a
já baiana e também sergipana Maria José. Outro irmão de Orlando, o prestigiado
Zé Maria da Serra Negra, juntamente com sua esposa e prima Ana Margareth de
Carvalho (filha de Heraldo de Carvalho) possui a mesma veneração e admiração
pelas terras sergipanas.
Os que de
Poço Redondo chegam a Serra Negra reconhecem em profundidade a força do
entrelaçamento dos laços. Abraços apertados, sorrisos largos, mesa farta,
gestos sem fim de amizade. E os de Poço Redondo também tudo fazem para acolher
bem os amigos. Na foto abaixo, a demonstração do prazer sentido durante uma
visita feita pela Família Carvalho ao Memorial Alcino Alves Costa.
No retrato
tirado como recordação, avistam-se os irmãos Orlando e Zé Maria e suas esposas
Maria José e Ana Margareth. E o meu prazer incontido em sempre recebê-los na
casa de Alcino e Dona Peta, na Casa de Poço Redondo.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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