*Rangel Alves da Costa
O vento vem... Entardecer, cadeira na calçada
e o vento vem. No sombreado de qualquer instante, no assento espraiado debaixo
da jaqueira e o vento vem. Anoitecer, portas e janelas se abrindo por que o
vento vem. O vento sempre vem. E no vento a ventania da tristeza, da saudade,
da relembrança, da nostalgia. Tudo como se o sopro do vento trouxesse consigo
retratos antigos, bilhetes e cartas, relicários do passado, olhares e bocas,
sorrisos e lágrimas, chegadas e partidas, adeuses e sofrimentos. E não há como
fugir ou se esconder quando o vento vem. E nunca chega sozinho. Ao longe, logo
se anuncia a canção do vento, a valsa do vento, o noturno em fá maior. Um
bailado lento, leve, entristecido, de quebrar castiçais. E nos salões da vida,
onde a valsa é no compasso do suportar a dor, o vento vem para soprar dizendo:
“Passo, mas volto, voltarei. E qualquer dia, na ventania, te levarei...”.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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