*Rangel Alves da Costa
A manhã já arribava em sol. O cachorro latia
sem parar. Coisa mais estranha, ele logo pensou. A mataria parecia zunir, as
folhagens pareciam gritar. Ao abrir a porta, até onde os olhos puderam avistar,
não quis acreditar no que via. As pernas logo estremeceram. Era corajoso
demais, sertanejo demais, mas o avistado desconsertava de tudo. Adiante,
surgindo de dentro dos matos, aqueles homens e suas estranhezas. Uns
carrancudos, cabeludos, todos paramentados de brilhos e trançados. Roupas
grossas, sujas, mas brilhosas pelos adornos dependurados. Armas, punhais e
cartucheiras. Passos apressados seguindo naquela direção. “Deus do céu!”,
imaginou que dizia. Os dedos anestesiados já não sabiam o sinal da cruz. “Deus
do céu!”. E de repente ouviu: “Tá com medo, cabra?”, indagou o da frente. Era
Lampião. Então a cangaceirada se aproximou mais até receber uma ordem: “Esse
não. Num quero desgraceira aqui!”. E se voltando para o bando, ajuntou: “Esse é
Mané Severo, protegido do Coroné Edvaldo de Água Branca. Um sertanejo arretado.
Gente da gente!”.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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