*Rangel Alves da Costa
Hoje, primeiro dia de 2020, acordei cedo e
fui dar uma volta na cidade de Poço Redondo, no sertão sergipano, meu berço de
nascimento e onde de vez em quanto me demoro alguns dias.
Por volta das oito da manhã, e ainda portas e
janelas fechadas, poucas pessoas caminhando pelas ruas e avenidas, talvez um
reflexo das festanças da virada de ano. Sentei na lateral de canteiro de praça
e fiquei imaginando um monte de coisas.
Olhava para um canto e outro, mas nada
interessante a fazer. O tempo passava e a mesmice continuando. Então decidi ir
até as beiradas do Rio São Francisco, na povoação ribeirinha de Curralinho,
distante apenas 14 km da sede municipal, e lá apreciar não só as belezas da
natureza como as águas do Velho Chico.
Providenciei um carro, convidei um casal de
amigos, e em poucos instantes já estava na estrada de chão em direção a antiga
e primeira povoação de Poço Redondo. Curralinho, por incrível que pareça, já
foi maior, bem mais desenvolvida, mas hoje apenas uma acanhada e humilde
povoação.
O grandioso de hoje em Curralinho é apenas o
Velho Chico que passa. Aliás, foi o rio quem sempre deu vida e fez progredir
aquela povoação. Mesmo que as grandes embarcações não passem mais e o comércio
pelas águas tenha perdido sua pujança de outrora, ainda e o rio que mantém viva
e belo aquele lugarejo ribeirinho.
Até as margens do São Francisco, todo o
percurso é feito pela Estrada Histórica Antônio Conselheiro. E assim porque foi
velho beato e seus seguidores que abriram, cortando os sertões, no ano de 1874,
a estrada que continua de chão batido.
Em meio aos sertões, ladeados pela vegetação
catingueira e cactácea, enfim o veículo desceu a última ladeira até divisar
mais uma obra de Antônio Conselheiro na região: a Igreja Nossa Senhora da
Conceição de Curralinho. Ao avistá-la, então a certeza que Curralinho é ali.
Mesmo sem a pujança de antigamente,
Curralinho ainda se mostra como uma povoação de singela beleza. A rua da
frente, defronte ao rio, por exemplo, possui calçadas altas (para impedir o
avanço das águas em épocas das cheias do rio) e belos exemplares arquitetônicos
em algumas moradias.
Mais abaixo, margeando o rio, bares e
restaurantes oferecem o necessário aos momentos prazerosos juntinho das águas.
E águas estas que agora estão bom volume e muito diferente de pouco atrás,
quando a magreza do rio estava visível em toda sua extensão. Mas hoje as águas
não dependem mais das chuvas, e sim do homem controlando a vazão das
hidrelétricas e principalmente da
barragem de Sobradinho.
As margens estavam lotadas, completamente
cheias de visitantes. Era de se esperar assim, pois aos finais de semana,
feriados e datas como as de hoje, o primeiro dia do ano, um grande número de
pessoas procuram as águas do Velho Chico para os banhos doces e deleitosos.
Não minha intenção entrar nas águas e me
deixar banhar em profusão. Até fui deixando o tempo passar enquanto eu
caminhava observando a beleza das águas, das serras e montes de lado a outro,
mas também as pessoas em mesas de bares e dentro das águas. Mas não houve
jeito. De repente e eu já estava caminhando em direção à beirada.
E que banho maravilhoso. Indescritível
sentir-se envolvido pelas águas históricas do Velho Chico. Mergulhar e
sentir-se abraçado pela natureza molhada. Sair um pouco das águas para depois
retornar. E assim fazer muitas vezes, pois uma sensação maravilhosa de estar
ali.
E assim, cortando os sertões em direção às
aguas do velho Chico, foi o meu primeiro dia do ano. E que maravilhoso início
de ano.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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