SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



quarta-feira, 12 de junho de 2019

FELIZ DIA DOS NAMORADOS



*Rangel Alves da Costa


Logo ao alvorecer, quando do primeiro encontro no beiral da porteira, e depois de um abraço apertado e de um carinho mais prolongado pelo corpo inteiro, então ele olhou no espelho d’água dos olhos de seu amor, para dizer: “Hoje acordamos com o povo espalhando corações por aí, postando fotos de abraços e beijos, trocando presentes, alongando sorrisos de felicidades, tudo como a dizer que a vida, seja de namoro ou de casamento, é de perfeição e beleza. Talvez seja assim mesmo. Mas talvez existam outras realidades diferentes ou ocultadas nas fotografias. Nós dois, por exemplo, não precisamos mostrar a ninguém que nos amamos e nos queremos. Nós dois não precisamos nos presentear mais do que nos damos a cada dia. Não precisamos colocar velas sobre a mesa se o candeeiro está sempre aceso depois da boca da noite. Nós não precisamos dizer palavras bonitas aos olhos dos outros se nosso dizer é tão pouco e tão tudo, é quase silencioso, é baixinho, é juntinho um do outro. Por isso, meu amor, que bom estar aqui agora pertinho de ti, mesmo sem buquê de flores, sem joia dourada, sem perfume de marca. Que bom olhar no seu olhar, sentir seu perfume de corpo e dizer e repetir: feliz nosso dia. Hoje e sempre, e até a velhice, seremos eternos namorados”. E depois colocou no pescoço dela um cordame de cipó trançado com um coraçãozinho de madeira, por ele mesmo trabalhado. No meio do coraçãozinho, com letra miúda escrita a ferro e fogo, um singelo Feliz Dia dos Namorados. E ela se sentiu a mais contente do mundo.
E para este casal humilde e compreensivo, talvez um poema ou escrito qualquer:

Eis que o amor entre dois
e uma vez revelado ao coração
é como feijão cozido em arroz
e não se separa mais não

um visgo no cozimento
na fervura em lenha e no sabor
uma mistura de puro contentamento
como saboroso alimento do amor

e os dois juntinhos assim
um no outro em doce saborear
ao coração é alimento sem fim
na mesa maior chamada amar.

Mas nem sempre é assim. Pessoas existem que fazem do dia dos namorados uma data de trocas, de luxos, de esbanjamento. Fotografias são postadas como se os dois vivessem na maior perfeição e harmonia. Os beijos e sorrisos até parecem viventes de um paraíso chamado namoro ou união conjugal. A imagem que desejam passar é sempre a de que a felicidade é o que comanda suas vidas. Que bom mesmo se fosse assim. Nas distâncias do mundo, nas vastidões empobrecidas do mundo, por todo lugar e situação, sempre há a verdadeira demonstração de amor. Ama - e verdadeiramente ama - aquele que vive em barranco, que dorme sob marquises, que mal tem o que vestir e o que calçar. Ora, o amor não tem luxo, não tem requinte, nem forja ser aquilo que verdadeiramente é. O amor é, na síntese maior da compreensão, o que expressa o Cântico aos Coríntios: “[...] se não tivesse amor, eu não seria nada. Poderia dar tudo o que tenho e até mesmo entregar o meu corpo para ser queimado, mas, se eu não tivesse amor, isso não me adiantaria nada. Quem ama é paciente e bondoso. Quem ama não é ciumento, nem orgulhoso, nem vaidoso. Quem ama não é grosseiro nem egoísta; não fica irritado, nem guarda mágoas. Quem ama não fica alegre quando alguém faz uma coisa errada, mas se alegra quando alguém faz o que é certo. Quem ama nunca desiste, porém suporta tudo com fé, esperança e paciência. O amor é eterno”.
E seja o amor romântico, entre dois, ou seja o amor de vida e de viver.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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