*Rangel Alves da Costa
Logo ao
alvorecer, quando do primeiro encontro no beiral da porteira, e depois de um
abraço apertado e de um carinho mais prolongado pelo corpo inteiro, então ele
olhou no espelho d’água dos olhos de seu amor, para dizer: “Hoje acordamos com
o povo espalhando corações por aí, postando fotos de abraços e beijos, trocando
presentes, alongando sorrisos de felicidades, tudo como a dizer que a vida,
seja de namoro ou de casamento, é de perfeição e beleza. Talvez seja assim
mesmo. Mas talvez existam outras realidades diferentes ou ocultadas nas
fotografias. Nós dois, por exemplo, não precisamos mostrar a ninguém que nos
amamos e nos queremos. Nós dois não precisamos nos presentear mais do que nos
damos a cada dia. Não precisamos colocar velas sobre a mesa se o candeeiro está
sempre aceso depois da boca da noite. Nós não precisamos dizer palavras bonitas
aos olhos dos outros se nosso dizer é tão pouco e tão tudo, é quase silencioso,
é baixinho, é juntinho um do outro. Por isso, meu amor, que bom estar aqui
agora pertinho de ti, mesmo sem buquê de flores, sem joia dourada, sem perfume
de marca. Que bom olhar no seu olhar, sentir seu perfume de corpo e dizer e
repetir: feliz nosso dia. Hoje e sempre, e até a velhice, seremos eternos
namorados”. E depois colocou no pescoço dela um cordame de cipó trançado com um
coraçãozinho de madeira, por ele mesmo trabalhado. No meio do coraçãozinho, com
letra miúda escrita a ferro e fogo, um singelo Feliz Dia dos Namorados. E ela se
sentiu a mais contente do mundo.
E para
este casal humilde e compreensivo, talvez um poema ou escrito qualquer:
Eis que o
amor entre dois
e uma vez
revelado ao coração
é como
feijão cozido em arroz
e não se
separa mais não
um visgo
no cozimento
na fervura
em lenha e no sabor
uma
mistura de puro contentamento
como
saboroso alimento do amor
e os dois
juntinhos assim
um no
outro em doce saborear
ao coração
é alimento sem fim
na mesa
maior chamada amar.
Mas nem
sempre é assim. Pessoas existem que fazem do dia dos namorados uma data de
trocas, de luxos, de esbanjamento. Fotografias são postadas como se os dois
vivessem na maior perfeição e harmonia. Os beijos e sorrisos até parecem
viventes de um paraíso chamado namoro ou união conjugal. A imagem que desejam
passar é sempre a de que a felicidade é o que comanda suas vidas. Que bom mesmo
se fosse assim. Nas distâncias do mundo, nas vastidões empobrecidas do mundo,
por todo lugar e situação, sempre há a verdadeira demonstração de amor. Ama - e
verdadeiramente ama - aquele que vive em barranco, que dorme sob marquises, que
mal tem o que vestir e o que calçar. Ora, o amor não tem luxo, não tem
requinte, nem forja ser aquilo que verdadeiramente é. O amor é, na síntese
maior da compreensão, o que expressa o Cântico aos Coríntios: “[...] se não
tivesse amor, eu não seria nada. Poderia dar tudo o que tenho e até mesmo
entregar o meu corpo para ser queimado, mas, se eu não tivesse amor, isso não
me adiantaria nada. Quem ama é paciente e bondoso. Quem ama não é ciumento, nem
orgulhoso, nem vaidoso. Quem ama não é grosseiro nem egoísta; não fica
irritado, nem guarda mágoas. Quem ama não fica alegre quando alguém faz uma
coisa errada, mas se alegra quando alguém faz o que é certo. Quem ama nunca
desiste, porém suporta tudo com fé, esperança e paciência. O amor é eterno”.
E seja o
amor romântico, entre dois, ou seja o amor de vida e de viver.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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