*Rangel Alves da Costa
As
separações, os adeuses, as brigas, as despedidas, os términos e as desavenças,
jamais serão um tanto faz. Ao menos para aqueles que, mesmo fragilizados,
nutriam algum sentimento.
Sentimento
é laço que enlaça, é corda que prende, é arame que junta e não quer soltar.
Sentimento é visgo, é carrapicho, é tessitura que larga e não solta. A pessoa
pode até negar, mas depois de enlaçado por um amor se torna em bicho manso,
domado.
Eis,
então, o perigo. O visgo que não quer mais sair, o laço que não quer mais
folgar, o cordame que não quer mais desfazer o seu nó. Coisa boa e ruim. Boa
por que amar é bom demais. Mas ruim pelo sofrimento que pode causar.
Quando o
laço é desfeito e cada um tem que tomar outro rumo, logicamente que vai levando
consigo a dor, a angústia, a aflição e, quem sabe, já a saudade de um
distanciamento tão recente.
Mentira -
e absoluta mentira - de quem disser que um rompimento nada provoca, ou, como
tentam fingir, apenas abre caminho para uma nova vida, para um renascimento.
Não é assim não.
Toda
despedida vem acompanhada de um doloroso processo de refazimento do próprio
ser. Ora, o amor não é brincadeira, o compartilhamento de sentimentos não é um
simples joguete, as relações não são tão fugazes assim que provoquem um tanto
faz após o seu término ou até o mero distanciamento.
Quem ama
não desama quando o outro dá as costas, quem ama não desapega no instante
seguinte ao afastamento, quem ama não inventa “outro amor” apenas para dizer
que está bem.
Quem ama,
ama. Quem ama permanece amando até que as chamas do impossível amor vão se
apagando e em cinzas se transformem de vez. E não de modo tão fácil como se
imagina.
Mas, como
dito, tudo a partir de um doloroso processo de refazimento da alma, do
espírito, de todo o ser. Processo este que envolve tristeza, que chama a
lágrima, que traz a saudade.
E não é
covardia ou fraqueza mostrar que as sombras daquele adeus ainda permanecem. Não
é covardia fazer aflorar os sentimentos e até de modo mais visível que o jamais
feito no passado.
Feio é
fingir, inaceitável é dizer que está bem melhor sem o outro, inadmissível é,
como dito, “inventar alguém” para fingir estar amando e dizer que já deu a
volta por cima. Mas nem todo mundo é assim.
Muita
gente vive mesmo no e do tanto faz. O amor é feira, o sentimento é banal, o
coração é sem janela ou porta. Eu sou daqueles que pensa muito diferente. Eu
sou daqueles que trata o amor com o respeito que o amor exige.
Como diz a
música, se é pra chorar eu choro, se é pra sofrer eu sofro, se é para sentir
saudades eu não meço distância. Tudo por um amor que, ao invés de fingido,
sempre vale a pena ser amado, mesmo depois do distanciamento.
Melhor não
fingir sentimentos. Mesmo o sofrimento, será preciso aceitá-lo se por algo que
fez bem ao coração. Não é por que o amor se vai que com ele vão também todas as
lembranças boas do vivenciado.
Do
contrário, qual a valia de tudo aquilo já vivido ao lado do outro? Por fim, é
bom lembrar que todo coração de pedra não passa de um lenço aberto esperando
ser molhado de lágrimas.
Escritor
blograngel-sertão.blogspot.com
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