*Rangel Alves da Costa
Situação complicada, difícil demais, é amar um amor amado. Não há coisa
melhor, mais doce e singela do que amar; não há nada mais maravilhoso do que
ter um amor. Contudo, e se o amor já é amado, e por outra pessoa?
Eis a situação que se coloca: Querer, desejar, gostar, estar apaixonado
por alguém que já está sendo amado por outro alguém.
Será que esta pessoa ama aquele alguém, ou a sorte no amor poderá
transformar tudo ao contrário, com ela deixando este e voltando o olhar para o
outro?
Aquele que também ama, mas pelas circunstâncias apenas o faz na
distância, certamente continuará semeando sua esperança de ver reconhecido seu
sentimento. Mas como deverá se comportar?
“A flor entristece e murcha ao ver o jardim ter olhos apenas para outra
flor; mas a flor, que certamente será outra flor, se impõe, se enobrece, se
embeleza, não importando que outros olhos se voltem para seu encanto. E assim,
nessa majestade solitária, vai brilhando tanto que o outono chega, as flores
perecem, os aromas arrefecem, o jardim entristece, e ela continua altiva e
perfumada, recebendo o orvalho da madrugada, sendo amada pela borboleta, sendo
beijada pelo beija-flor!”.
Mas não é fácil fazer previsões sobre o comportamento de quem tanto ama
e não é correspondido e, além disso, tem de sentir o desprazer de ver seu amor
noutros braços. E lembrei-me de alguém que simplesmente fez chegar ao
conhecimento da amada acerca do seu amor e deixou que o vento soprasse.
Outro, contrariando o respeito que se deve ter a qualquer situação de
amor, ainda que em posição adversa, logo procurou agir para desfazer a relação
entre o seu amor e o outro, amante do seu desejo. Fez promessa, consultou
cartomante, foi em terreiro, começou a espalhar mentiras.
Contudo, quando mais fazia mais sentia o seu amor ser mais amada pelo
outro, que além de amor agora dava maior proteção, maior compartilhamento, mais
afeto e atenção. E o outro sentiu que tais aspectos eram totalmente diferentes
do que estava fazendo. Então pediu a si mesmo perdão, procurou reparar os seus
erros e entregar a sorte de sua paixão aos deuses dos apaixonados.
“E o vento maldoso que só pensava em soprar enfurecidamente, sempre
levando na boca uma ventania, querendo passar por cima de tudo, desfolhar a
vida, jogar pelos ares os sonhos, um dia de mais fúria ainda soprou tão
violentamente uma brisa inocente que esta abriu uma janela fechada e entrou. De
dentro do quarto, despontando na janela, apareceu uma jovem tão bela que o vento
maldoso parou para apreciar. Mas ouviu da linda boca que vento igual aquele,
tão covarde e desumano, não merecia derrubar sequer os muros da ignorância.
Envergonhado, o vento se dissipou num instante e só ousa soprar agora como
brisa suave e cativante”.
Mas se o amor não deixar seu amado para satisfazer o desejo do outro
que tanto ama, não há outra coisa a fazer senão procurar resolver a situação
através de dois caminhos diferentes. Continuar amando, pois onde há amor há
esperança; ou procurar esquecer, ainda que seja difícil e dolorosa decisão.
Tudo ficará nas mãos do destino. Onde existe um amor verdadeiro, aquele
que é ilusório não perdurará por duas estações seguidas. Colocar em repouso o
desejo de amar, deixando que as oportunidades vão surgindo para torná-lo
possível. Que a pessoa amada conheça desse amor, e simplesmente isso. Cabe a
ele decidir ser amada por outro amor ou preservar a situação amorosa existente.
“E a noite desceu tristonha, mas tão negra e silenciosa que nem os
vaga-lumes quiseram aparecer. Mas a noite com seu negrume suportou firmemente
aquele instante passar, pois sabia que não tardaria para as nuvens seguirem seu
rumo e deixar surgir o mais belo anel dourado jamais avistado. E o lume caiu
sobre os seres com tão doce melodia que ninguém mais pensou em tristeza”.
Assim, quem sabe valha a pena esperar o amor acontecer. Nada é
impossível sobrevir. Os nós se desatam, as pedras são transformadas em pó e
depois levadas pelo ar. E quem verdadeiramente ama sabe esperar o momento de
expressar seu amor.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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