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A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



terça-feira, 25 de junho de 2019

VAQUEIROS E SERTÕES



*Rangel Alves da Costa


Quem avista no dia a dia a vaqueirama de Poço Redondo, talvez jamais tenha imaginado a sua importância na continuidade da cultura local e sertaneja. Quem convive com o mundo vaqueiro, com o bicho do mato, com o cavalo ligeiro e a pega de boi valente, certamente não imagina a dimensão deste ofício cheirando a couro e a suor. Quem sai das fazendas pelos arredores da cidade e cavalga em lindo cortejo pelas ruas da cidade, em si mesmo não sabe a beleza e a importância deste simples ato de cavalgar em procissão ecoada pelo aboio e pela toada.
Quem cuida de seu cavalo em amizade profunda e nos dias de festa de gado o adorna com cuidado e carinho, e depois de recobrir-se de couros segue em direção ao Parque Santa Fé, ao Juazeiro, ao Padre Cícero ou outros campos de vaquejada e pega-de-boi, sequer imagina o quanto está reescrevendo as valorosas histórias dos antigos e destemidos vaqueiros. Quem avista um menino, um rapazote ou um jovem, desfilando garbosamente com seu alazão, nem imagina quantas portas da história, da cultura e da tradição, está sendo aberta em cada trotar pelas ruas em direção aos campos.
Quem acha que vaqueiro é um qualquer não sabe de nada. Quem acha que o jovem vaqueiro tem mais o que fazer a se preocupar com vida de cavalo e boi, igualmente não sabe de absolutamente nada. Quem acha que vaquejada é esporte pra quem não tem o que fazer, inegavelmente não sabe o que diz. Quem acha que cavalgada é apenas um monte de gente que passa sobre animais, também não sabe o que diz. Quem acha que o aboio e a toada são cantigas apenas de mato, haverá de pensar diferente. Quem acha que o grande Parque União Santa Fé é apenas um local de aboios, toadas, bebidas e corridas de gado, também não sabe o que diz.
Muita gente realmente sequer sabe da importância do vaqueiro, da vaquejada, da pega-de-boi, do aboio, da toada. Mas é preciso saber, é preciso conhecer. Toda vez que passa um vaqueiro, uma reverência há de ser dada. Não se trata apenas do animal, do homem montado, do terno de couro, de tudo o mais que o adorna no seu ofício, e sim do retrato cultural, histórico e tradicional, do próprio sertão. Sertão é vaqueiro, é vaquejada, é aboio, é toada. O oficio do vaqueiro é tão fundamental na vida sertaneja que não haveria sequer sertão sem o trotar do cavalo e o destemor do homem sobre o animal.
E como hoje os livros reconhecem, a vaquejada é esporte e arte. Enquanto tal faz bem ao espírito, à alma, ao desenvolvimento pessoal. Além disso, retrata o que de mais belo há no mundo sertanejo: o vaqueiro no seu exercício de vida. Sim, o vaqueiro no seu exercício de viver, pois há um amor tão grande do sertanejo por seu ofício de gado que faz suporta os lanhos na pele, as pontas de espinhos, o couro vencido pela catingueira afoita. Mesmo que caia, que sangre, que fique todo alquebrado, não demora muito e ele já novamente montando no seu alazão.
Um amor aliado à valentia, ao destemor, ao sentido sertanejo da abnegação. E que continuem assim, bravos vaqueiros de Poço Redondo. Do mais jovem ao mais velho, que todos saibam que o sertão precisa que continuem correndo gado, vencendo os espinhos, aboiando, entoando versos vaqueiros, sendo imensos naquilo que tão bem sabem fazer. E em homenagem aos vaqueiros, um dia eu escrevi uns versos que dizem assim:


Vaqueiros da Santa Fé

Terno de festa é de couro
roupa de vaqueiro é gibão
o carro bonito é o cavalo
seu orgulho é o alazão

a mocinha enfeitada
de bota e chapéu de couro
vai aplaudir seu vaqueiro
levando brinco de ouro

a vaqueirama em festa
do bicho não larga o pé
vai selando seu ligeiro
pra correr na Santa Fé

solta o aboio seu moço
a mata se abre em flor
o boi valente tá solto
no vaqueiro o destemor

no Parque da Santa Fé
o chão treme assustado
no passo da vaqueirama
na derrubada do gado

Poço Redondo festeja
a cultura e a tradição
dos vaqueiros de sua terra
na pega-de-boi devoção

celebrando um passado
de vaqueiros renomados
homens de cavalo e gibão
para as estrelas levados

mas deixaram entre os seus
a herança da vaqueirama
um amor que se renova
no esporte que mais ama

sobe ao cavalo inteiro
e volta todo lanhado
no corpo sinais da luta
mas de orgulho dobrado

parabéns ao nosso herói
que não teme o que vier
orgulho desse sertão
Vaqueiros da Santa Fé.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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