*Rangel Alves da Costa
Faço tudo o que eu quiser. Sou o que eu
quiser. Se eu quiser deixo você falando sozinha e vou ouvir uma palavra boa. Se
eu quiser deixo de dormir na rede e vou chorar na cama minha solidão. Mas quero
não. Se eu quiser subo à montanha do lobo para aprender a uivar a sua dor. Mas
quero não. Se eu quiser reinvento a história toda, conto toda a verdade, e faço
tudo mentiroso. Não há heróis em poesia nem de pureza n’alma. Todos sangram e
fedem. Se eu quiser leio somente Florbela Espanca. Gosto somente de Florbela
Espanca. Se eu quiser rasgo toda poesia que venha floreada e adocicada. Quem
disse que o amor é assim? Se eu quiser mato meu vizinho e dou suas tripas ao
cachorro dele pra comer. E depois mato o cachorro também. Mas seria tempo
perdido demais. Se eu quiser me fanatizo como um petista idiota e abdico de mim
para viver somente da idiotia doentia. Mas deixe pra lá. Os loucos encontram o
que merecem. Se eu quiser saio nu e tomo banho de chuva. Mas minha vizinha de
frente sempre me olhou diferente. Tenho medo de trovões.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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