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sexta-feira, 28 de junho de 2019

Palavra Solta - veneno, aos poucos...



*Rangel Alves da Costa


O cálice sobre a mesa. Uma dor danada de saudade. Uma garrafa de uísque já esvaziada. Uma de vinho também. Um lenço encharcado de lágrimas. Olhos ainda vermelhos de tristeza e solidão. A janela aberta, mas não queria se jogar do quarto andar. Talvez não fosse altura suficiente para esparramar lá no chão. Não tinha outra arma senão veneno. Veneno mata, sabia. Mas não queria beber na voracidade da morte. Queria beber aos poucos, ir morrendo aos poucos e, a cada instante de despedida, ir rememorando suas dores, angústias e sofrimentos. Queria morrer aos poucos. Então encheu o cálice de veneno e foi sorvendo tiquinho a tiquinho, pausadamente. Não sentia o efeito esperado. Estava demorando demais a sentir o fraquejamento da morte. Nem pensava mais em se voltar aos pensamentos agonizantes em sua vida, mas tão somente na falta de eficácia daquela bebida mortal. Enraiveceu-se. Jogou o cálice na parede e foi dormir. Deixaria para morrer outro dia.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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