*Rangel Alves da Costa
O cálice sobre a mesa. Uma dor danada de
saudade. Uma garrafa de uísque já esvaziada. Uma de vinho também. Um lenço
encharcado de lágrimas. Olhos ainda vermelhos de tristeza e solidão. A janela
aberta, mas não queria se jogar do quarto andar. Talvez não fosse altura
suficiente para esparramar lá no chão. Não tinha outra arma senão veneno. Veneno
mata, sabia. Mas não queria beber na voracidade da morte. Queria beber aos
poucos, ir morrendo aos poucos e, a cada instante de despedida, ir rememorando suas
dores, angústias e sofrimentos. Queria morrer aos poucos. Então encheu o cálice
de veneno e foi sorvendo tiquinho a tiquinho, pausadamente. Não sentia o efeito
esperado. Estava demorando demais a sentir o fraquejamento da morte. Nem
pensava mais em se voltar aos pensamentos agonizantes em sua vida, mas tão
somente na falta de eficácia daquela bebida mortal. Enraiveceu-se. Jogou o
cálice na parede e foi dormir. Deixaria para morrer outro dia.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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