*Rangel Alves da Costa
Lábios vermelhos. As cobras têm lábios
vermelhos, os lobos e as tigresas também. As onças têm lábios vermelhos, as
raposas também. E a mulher muito mais. Bocas vermelhas, lábios famintos, dentes
devoradores, línguas imperdoáveis, bafos mortais, sopros sanguinários. A presa
põe-se aos pés para ser devorada. Sabe que vai ser mordida, sabe que vai ser
devorada, sabe que suas forças se extinguirão, mas ainda assim ajoelha-se
implodindo, pedindo, rogando por um beijo. O beijo da mulher aranha, talvez,
como último gozo e último prazer na vida. E o homem, sempre sedento do lábio e
da boca, sempre querendo se fartar da doçura, vai sorrindo e esperançoso ao
precipício. Apaixonado, então beija. Perdido de amor, então beija.
Imaginando-se amante e amado, nunca sabe a sangria que já escorre dentro de si.
E o passo seguinte é querer mais. E sempre tem. Sempre tem outros beijos e
outras lambidas. Sempre tem outros afagos de lábios vermelhos. E depois disso
já não terá mais nada. Será apenas um homem despido de si e entregue aos
desejos enlouquecidamente mortais daqueles lábios.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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