*Rangel Alves da Costa
Embasado em fontes históricas, leituras e
demais pesquisas, hoje eu postei um texto onde eu falava de duas eleições
municipais ocorridas num mesmo mês, num recém-emancipado município sertanejo, e
todo num entremeado de política, artimanha eleitoreira, poder e violência.
Não narrarei aqui os acontecimentos pela
escolha da síntese. Apenas dizer que o texto tratava de eleições municipais e
onde os candidatos pleiteantes tiveram tratamento diferenciado da justiça
eleitoral de então. Resultado: um dos candidatos, sentindo-se aviltado pelo
tratamento que lhe fora concedido, simplesmente não deixou que o primeiro
pleito acontecesse, pois roubou as urnas.
Após a postagem feita nas redes sociais,
então uma chuva de críticas e até de ameaças começaram a recair sobre o texto e
minha pessoa. E tudo, num esbaforimento danado, vindo de familiares de um dos
personagens da história relatada. Uma dizendo que eu precisaria pesquisar
melhor antes de escrever, outra dizendo que eu procurasse o que fazer, e ainda
outra dizendo que queria ter uma conversinha pessoalmente.
Ainda aguardo a visita da parenta do
personagem relatado. E aguardo para dizer que na história não há escolha
pessoal do narrador, elegendo um como bom moço e ou outro como simples algoz.
Na história não há como modificar os fatos para transformá-los em outra
realidade. Ou relata ou acontecido - e como aconteceu - ou se estará incorrendo
em julgamento pessoal.
Fato é que a história não tem culpa de nada.
A história é a realidade, mesmo passada, na sua mais ampla inteireza. Mesmo que
haja recortes de situações por falta de informações mais precisas, os dados
obtidos devem refletir uma realidade sem disfarces. Não é possível à seriedade
histórica que o pesquisador se atenha, por exemplo, apenas a determinados fatos
que possam desvirtuar a fidelidade dos acontecidos.
Forjar a história para agradar alguns é não
ser fiel ao fato histórico. Ao enveredar por paixões pessoais, certamente que o
historiador estará produzindo uma deslavada mentira. Ao elaborar um estudo, por
exemplo, para dizer que Lampião foi apenas um bandido ou foi somente um herói,
logicamente que o pesquisador já tenciona pela inverdade, eis que com pretensão
de apenas opinar ante um contexto histórico.
Como dito, a história não tem culpa se os
seus personagens são, muitas vezes, desconcertantes, brutais ou violentos. A
história não tem culpa se Hitler dizimou milhões, se Genghis Khan passou o fio
do punhal em milhares de cabeça, que Stalin tenha mandado para a morte milhões
de desafortunados. A história não tem culpa porque fizeram isso. Culpados são tais
personagens históricos, mesmo assim a julgamento do leitor.
Tome-se por exemplo a vida dos santos. Muito
biógrafo se volta apenas para o lado santificado de tais personagens e sem a
menor análise de suas vidas pessoais, tantas vezes mundanas ou desregradas. É
como se o santo já fosse santificado de nascença, sem jamais ter passado pelo
cruel e rude mundo dos homens. Estaria cometendo uma falácia aquele que se
voltar apenas para o lado bonzinho e humanista de cada um. Ou se relata a
verdade ou será melhor nada relatar.
Eis, neste sentido, o teor do inconformismo
de alguns pelo que escrevi. Ora, eu não inventei, eu não distorci a realidade,
eu não criei situações inexistentes. Os testemunhos ainda são muitos dos
acontecidos. E por que, então, dizer que faltei com a verdade? Será que a minha
verdade viria somente se eu moldasse a história segundo o desejo de alguns?
Como diz o ditado, as ações e atitudes das
pessoas servirão como espelho para toda a vida. Ninguém vai ser apenas bonzinho
mais tarde só porque seus familiares assim desejam. Basta saber que são
humanos, e como tal propensos aos erros e aos acertos.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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