*Rangel Alves da Costa
Sinto-me lobo. Eu não sabia que a distância e
a saudade tivessem o dom de nos transformar em animais vorazes, uivantes,
ferozes, predadores de si mesmos. Mas eu aqui e ela lá no outro lado do monte,
onde eu nem alcanço nem posso beijá-la. E que angústia danada a ausência de um
amor. E que terrível sofrimento o fato de não ter asas para, num voo, chegar ao
umbral de sua janela. Apenas lembrar, apenas sofrer, apenas chorar de saudade.
Sim, ela está aqui na parede da memória, em moldura bela, com sorriso perfeito.
Sim, ela está pertinho de mim com seus sussurros amorosos de dias passados. E
como eu gostaria de abraça-la, de beijá-la, de chamá-la de meu amor. Como eu
gostaria que ela estivesse ao meu lado, dentro de mim, no meu eu inteiro. Mas
não. Eu estou aqui e ela na distância. E nesta aflição de vida, o lobo me toma
inteiro. Lobo faminto, sedento, ferido, aflito, angustiado. E da janela,
imaginando os caminhos até ela, os meus uivos tomam o entardecer e tornam a
escuridão mais triste.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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