*Rangel Alves da Costa
Sou sertanejo. Nasci no semiárido sergipano e
rodeado de mandacarus e xiquexiques. Desde meninote que piso no chão de terra,
que falo com a pedra, que dialogo com passarinho. Por isso que de vez em quando
eu converso com o sertão... E de vez em quando eu ouço o sertão falando comigo.
E você, já ouviu o sertão falar? Converse com ele e logo ouvirá sua voz! No meu
caso, saio da vida urbana, citadina, sigo pelos beirais das estradas, procuro o
silêncio das matas e arredores para, enfim, conversar com o sertão. Vejo um
passarinho e pergunto pelo seu ninho. Ele me diz que não existe mais ninho,
pois toda caatinga já foi derrubada pelo homem. Vejo uma pedra e com ela puxo
um proseado. Pergunto pelo calango que sempre estava por ali, mas ela me diz
que o menino matou o calango para comer na última seca grande. Converso com o
pé de pau que raramente encontro, vez que tudo parecendo desertificado e nu.
Gosto muito de prosear com a flor do mandacaru. Uma sábia, esta bela flor. Não
que me venha com grandes lições, mas pela sua própria existência, eis que dura
apenas uma noite a bela flor do mandacaru. Nasce ao anoitecer e ao amanhecer já
se despede da vida. Tão bela e tão curta vida. Assim como muita vida que jaz
igual flor do mandacaru.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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