Rangel Alves da Costa*
Não sei por que impuseram uma fama tão ruim ao pau de galinheiro, qualificando-o como algo de mais abjeto, sujo e nojento que possa existir. Pura injustiça, pois no reino dos bichos há coisas muito mais desagradáveis do que o coitado do sustentáculo que se estende na casa das galinhas.
Sustentáculo este que também é conhecido como poleiro. Consiste numa vara que, no interior das gaiolas, viveiros ou galinheiros, serve para os pássaros ou as aves pousarem. No mesmo sentido, é o conjunto de varas dispostas horizontalmente à maneira de escada, geralmente dentro dos galinheiros, onde as aves domésticas pousam ou repousam.
Mas voltando à injustiça impingida, tem-se que a pocilga a céu aberto, por exemplo, é muito mais suja do que mil paus de galinheiro juntos. Além da lavagem – restos de comida que são despejados ali para o deleite da porcaria -, da lama putrefata e do cheiro insuportável dos próprios porcos, há ainda a agravante das doenças disseminadas por outros bichos que por ali passam para uma lambida ou uma bicada.
Não significa, contudo, que o porco seja um animal sujo e que só se alimenta de restos estragados e malcheirosos. Pelo contrário, passaria muito bem e engordaria do mesmo jeito se tivesse por dieta uma comida mais saudável e fosse criado num ambiente menos devastador. Ainda assim é a melhor carne que possa existir, a mais apetitosa e mais apreciada.
E injustiça também porque aos porcos é imputada uma fama que mais caberia às galinhas. Quem suja a pocilga é o próprio homem, o dono ou criador, que vai jogando ali casca de melancia, abóbora estrada, banana podre, além logicamente de baldes e mais baldes de restos nojentos e pegajosos de comida.
O mesmo não ocorre no galinheiro, que é sujo por natureza, imundo desde a entrada, e por lá não tem a ação do homem do mesmo jeito que ocorre na pocilga. O que se faz no galinheiro é jogar milho, colocar água e pronto. Toda sujeira é feita única e exclusivamente pelos seus habitantes, que são as galinhas, galos e pintos.
Contudo, mais sujos do que porcos e galinhas somente determinadas pessoas. Superando em muito até as hienas e urubus, bichos famintos por carne morta, apodrecida, cheia de vermes. Pessoas que possuem nome e sobrenome, andam como gente, falam e agem como tal, mas para por aí, pois são sebosas até dizer chega.
E não somente porque fogem do banho, não possuem asseio pessoal nenhum, lambuzam comidas, são inimigas de qualquer tipo de limpeza, mas também intimamente, no caráter encardido, na imoral impura, na honra enlameada. São estas mesmas que se arvoram do direito de sempre enxergar defeito nos outros.
Pau de galinheiro perde feio de gente assim. Aliás, muito há que se dizer para comprovar que o pau de galinheiro tem muito mais fama ruim do que merece ter. É um pau comum, uma madeira estendida dentro do galinheiro e onde as aves sobem para repousar, para dormir. Dormem em cima do pau, mantendo-se equilibradas pelos pés enrugados que possuem e que se dobram em torno da madeira.
Esse pau jamais poderia ser limpo, vez que dentro do galinheiro e tendo constantemente pés sujos de aves por cima. Mas sujeira normal, nos mesmos moldes das galinhas. Se há sujeira, imundície e mau cheiro, certamente que estará mais abaixo, no chão onde as aves defecam e onde se espalham os restos de comida ali colocados.
E mais uma vez a culpa não é nem das aves, que vivem, se alimentam e sujam tudo o redor na normalidade dos criatórios. E sim dos donos dos galinheiros que se preocupam apenas em jogar comida ali dentro, engordar suas aves e toda manhã passar por lá com uma cestinha para recolher os ovos das poedeiras.
Apenas fazem isto e vão deixando ao abandono, acumulando imundície e tudo o mais. E quando o mau cheiro começa a seguir o vento nem pensam em culpar nem as galinhas nem o seu dono, mas o coitado do pau do galinheiro que pouco tem a ver com a situação.
Por isso mesmo que sujo não é o pau do galinheiro, mas muito mais o dono das galinhas. Este deveria ser trancado e mantido no galinheiro, em cima do poleiro, só saindo de lá quando desaprendesse a cacarejar.
Poeta e cronista
e-mail: rac3478@hotmail.com
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