*Rangel Alves da Costa
O sertão sergipano amanheceu todo molhado.
Desde a madrugada que uma chuvinha fina, porém constante, cai sobre os
quadrantes antes esturricados de sol e de seca. No mundo sertanejo,
principalmente os mais velhos sabem que a chove forte, pesada, desabada de uma
vez, serve apenas para encher tanques, fontes e açudes, e depois escorrer por
cima da terra, sem beijar o seu ventre, sem adentrar às suas raízes mais
profundas. Somente a chuva mais fraca, mais fina, de modo demorado, tem o dono
de verdadeiramente molhar, de encharcar, de tornar a terra alimentada de viço e
de esperança. É a chuva fina que alimenta o grão lançado, que faz germinar a
semente fincada no chão, que faz verdejar as plantinhas miúdas e os capinzais
ressequidos. Por isso que toda vez que cai chuva assim, miúda, apenas
chuvisquenta, porém constante e demorada, o sertanejo se anima e se alegra
todo. Os horizontes tomam outros ares, as pastagens parecem sorridentes, os
bichos lentamente recebendo nas costas os sinais de renascimento. Com a terra
prenhe, amolecida do pingo, também a certeza de dias melhores, de
contentamentos em semblantes acostumados com as tristezas das sequidões. Todo
amanhecer é uma nova moldura ao sertão, um novo retrato que se impõe na
esperança. E que continue caindo a chuva fininha e tão milagrosa ao homem do campo.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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