*Rangel Alves da Costa
A lógica poderia dizer que é impensável
abraçar um mandacaru. Ora, o mandacaru é cacto sertanejo espinhento, de
espinhos longos, agressivos, pontudos, famintos por pinicação. Gente há que sequer
passa por perto de qualquer cacto, e muito menos do mandacaru. Mas não sei por
que assim, vez que alongo meus braços e a ele me abraço com gosto, prazer e até
devoção, numa desmedida entrega. E assim faço pela alma sertaneja que tenho,
pelo sangue sertanejo que há em mim. Ora, em meio a tanto sofrimentos sertões
adentro, em meio a tantas secas e estiagens, em meio a tantos sois e gravetos
secos, em meio a tanto berro faminto e tanto mugido de desolação, abraçar o
mandacaru é como se postar perante um altar de oração. E assim, nesse altar de
espinhos e asperezas, pedir às alturas os auxílios de chuva, os auxílios de
esperança, os auxílios de paz. E não impossível de ser atendido. O mandacaru
tem braços grandes, sempre estendidos em direção ao céu, em diuturna oração.
Por isso que vive assim como um candelabro de velas acesas à espera de
milagres. Por isso que a ele me abraço na mesma fé.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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