*Rangel Alves da Costa
Nas terras interioranas ainda se utiliza
muito do termo “aviadado” para expressar a homossexualidade masculina. Pelas
praças, nas calçadas e nos pés de balcão, de vez em quando se ouve que “fulano
de tal é aviadado”, que “sicrano tem um caminhado aviadado”, que “beltrano
aviadou de vez”. Mas quem não gostou muito foi o eternamente assumido
Rosa-Flor, talvez o gay mais declaradamente mulher do mundo. Toda vez que
pressente estar sendo chamado de aviadado, dá meia volta num saltinho, roda a
bolsinha, dá um ligeiro requebrado com as mãos na cintura e diz: “Tudo. Pode me
chamar de tudo. Pode me chamar de boiola, de viado, de baitola, de xibungo, de
afeminado, de mulherzinha, de qualquer coisa, pois assumo o que sou, mas nunca
de aviadado. Essa coisa de aviadado é pra que não aviadou de vez, é pra quem se
esconde usando calcinha, mas eu não. Eu sou mulher, sim senhor, fêmea absoluta,
gostosa, apetitosa, uma gardênia perfumada. Aviadado nunca. E dá próxima vez
que me chamar assim vou dizer quem de sua família é aviadado e você finge que
não sabe”. Ao ouvir isso, certa feita um metido a valente retrucou: “Pois
entonce tenha coragem e diga quem na minha famia aviadou, diga...”. Então
Rosa-Flor disparou: “Você, seu boiolão. E quer que eu diga agora mesmo o nome
de seu bofe?”. O valentão acovardou, amarelou, estremeceu, acabou saindo de
fininho. E com um caminhado meio esquisito mesmo.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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