*Rangel Alves da Costa
A noite chegou. E do meu sertão somente a
lembrança. Ainda é noite menina, nova, festeira. Mas recordo bem que pelas
distâncias matutas já é noite alta, velha, cansada. Lá no mato, a noite nova
vem no entardecer. Quando a lua surge já é noite envelhecida e sonolenta. O
café chega antes da boca da noite, o proseado até um pouquinho depois disso.
Quando há feijão para debulhar ou calça a remendar, espera-se somente o
candeeiro começar a queimar mais o pavio, a deixar o gás em tiquinho. Quando
chega algum amigo ou vizinho para o proseado, a demora é curta, nada além de
uma talagada de pinga e da queimação de cigarro de palha. Mais adiante, vinda
de entre serras e montes, uma fresca vai soprando boa para aliviar o calor do
dia. A lua ainda passeia entre nuvens. Um grilo faz seu canto num oco qualquer
de pau. Um vaga-lume procura ser avistado de qualquer jeito. O menino pede ao
pai um pedaço de lua. Ele promete. Que o menino vá dormir que ele vai colocar o
pedaço de lua ao lado de seu travesseiro. E o menino vai todo contente. Depois
o pai vai devagarzinho e coloca o prometido pedaço de lua. Quando ele acorda
não encontra nada. Mas o pai não tem culpa. Já é manhã e a lua já foi embora.
Sorte que o filhinho sempre se esquece de pedir um pedaço de sol. É dessa
ilusão bonita que também se vive nos rincões empobrecidos desses sertões de meu
Deus.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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