*Rangel Alves da Costa
Chico Nicácio, nome mais conhecido de
Francisco Anicácio Silva, é nome que infelizmente parece perdido na memória
viva de Poço Redondo. Nem mesmo os mais velhos retomam o seu nome e as grandes
qualidades que sobre ele recaem. Os mais jovens então, que muitas vezes sequer
sabem os nomes dos avôs, dificilmente já ouviram falar na sua existência. E se
ouviram também foi um tanto faz. Que triste sina a dos grandes homens
interioranos de serem mortos até na memória.
Pois saibam que Chico Nicácio representou
Poço Redondo em toda sua pujança e louvor, mesmo num tempo de tudo tão pouco e
tão difícil. Saibam que Chico Nicácio foi médico interiorano sem formação em
medicina, foi farmacêutico sem possuir tal graduação acadêmica, foi um
remediador onde a doença necessitava de uma urgente injeção, de um comprimido,
de um preparado medicinal.
Outro dia, em proseado no Memorial Alcino
Alves Costa, em Poço Redondo, o amigo Djalma Feitosa (Doutor de Iolanda) fez
lembrar da ausência do nome de seu pai em uma importante via pública, fazendo
merecidamente ao que representou Zé de Iaiá na vida sertaneja, mas também de
Chico Nicácio, tão injustamente negligenciado pelas autoridades municipais. E
nome que não caberia apenas numa rua escondida em qualquer canto, mas no local
onde hoje está instalada a Praça de Eventos. Ora, ali ele residia com sua
família.
Chico Nicácio residia precisamente numa casa
ao fundo da atual praça, noutros idos apenas um descampado arenoso. E um pouco
mais acima, enveredando por uma estradinha, localizava-se uma propriedade sua
chamada Gado Manso, nos arredores do atual Conjunto Lídia Souza, e
posteriormente adquirida por Ermerindo Alves Costa. Como visto, Chico Nicácio
também era homem de posses, mas de poucas posses, vez que seu interesse maior
sempre foi servir à população.
De altura mediana, magro, esbelto, de postura
refinada, sempre elegante, Chico Nicácio mais parecia um nobre europeu em
terras matutas. Voz grave, grossa, de semblante fino e bem caracterizado no
rosto, sempre sobressaía por onde passava ou chegava. Nunca largava uma maleta
de couro envernizado, nos moldes mesmo daquelas levadas pelos médicos em visita
aos enfermos, de onde puxava a cura para meio mundo de enfermidades. Quando
comprimido não dava jeito, então logo cuidava de preparar a injeção. Assim era
Chico Nicácio e sua sabedoria medicinal.
Mas também político, homem de liderança e de
grande influência nas hostes partidárias de Poço Redondo. Candidatou-se a vereador
e foi eleito, assumindo o mandato em 1963 ao lado de Luís de Sousa (Luís
Maranduba), Cândido Luís de Sá, Lourival Félix de Azevedo e Darcy Cardoso de
Sousa. O prefeito eleito foi Durval Rodrigues Rosa, posteriormente forçado a
renunciar pelos generais de 64. Em seu lugar assumiu Cândido Luís de Sá, que
havia vencido o próprio Chico Nicácio por três votos a um na disputa para a
presidência da casa (Darcy não votou, pois estava afastado, e mais tarde
Joãozinho de Bizu, genro de Durval, assumiria o seu lugar).
Na mesma sessão do dia 12 de junho de 1964
que elegeu Cândido Luís de Sá para presidência da Câmara Municipal e em seguida
foi declarada a vacância do prefeito municipal que havia renunciado naquela
mesma noite, Seu Candinho se tornou prefeito e Chico Nicácio assumiu a
presidência da casa legislativa. Mesmo tendo sido eleito vereador apenas uma
vez, o homem da medicina sertaneja continuou com presença marcante e
influenciadora na política local, sendo procurado todas as vezes que um
candidato precisava não só de apoio político como de sua sabedoria nas mais
diversas vertentes.
Assim - ou quase assim - foi Chico Nicácio,
um homem tão nobre e tão respeitado no seu tempo e tão injustamente esquecido
pelos de hoje. Mas infelizmente é assim. Nem quando se dá nome a rua a maioria
quer saber quem foi, muito menos quando os grandes sertanejos são simplesmente
relegados ao esquecimento.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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