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sábado, 27 de maio de 2017

QUANDO JOVENS SERTANEJOS ABRAÇAM TRANSFORMAÇÕES


*Rangel Alves da Costa


Recordo-me muito bem os dias tristes ao reencontrar a Igrejinha do Poço de Cima em verdadeiro estado de abandono. Completamente deteriorada, de portas em frangalhos, abertas pelo homem e pela ventania, visitada por animais, quase sem telhado, com cupins tomando todos os espaços, uma tristeza danada somente em avistar.
Não menos diferente era a realidade ao redor, com sepulturas igualmente abandonadas, o capim e o mato envolvendo tudo, a investida dos bichos por cima e entre os jazigos, apenas a desolação e o esquecimento. Ora, os que chegavam ali para acender velas sobre os túmulos de seus falecidos parentes sentiam que, sozinhos, não conseguiriam mudar aquela lastimosa situação.
Mesmo com a importância histórica, religiosa e familiar, aquela igrejinha e seu cemitério passaram longos anos à margem do esquecimento, senão do completo abandono. Todo mundo falava na Igrejinha do Poço de Cima, mas poucos sabiam ou conheciam o seu verdadeiro estado. Missas, novenas e outros ofícios e manifestações religiosas, sequer pensar no local. A serventia era apenas da lembrança, da triste recordação.
Um dia, contudo, a partir do descontentamento, da tristeza e da revolta de Padre Mário com aquela situação, vez que o bom pastor das almas sertanejas sentia que sem a participação do poder público aquele quadro estarrecedor não seria modificado, principalmente pela falta de condições da paróquia em fazer os devidos reparos, lançou suas esperanças em qualquer ajuda que chegasse. Contudo, quem chegou para abraçar a causa foi um grupo de jovens da comunidade.
Este grupo, nascido da perseverança e tenacidade de jovens sertanejos como Enoque, João Vitor e tantos outros, então iniciou aquilo que por muito tempo foi visto como impensável, que foi fazer renascer aquela igrejinha abandonada e novamente colocá-la no seu altar maior de reconhecimento e valorização: Capela de Santo Antônio do Poço de Cima. E, desde então, com árduo e constante trabalho, a Igreja do Poço de Cima foi novamente retomando sua verdadeira feição de templo primeiro e de importância fundamental na vida religiosa de Poço Redondo.
Foi a partir da missão abraçada por estes jovens que a capela foi praticamente refeita, pintada, recebendo um novo telhado e tudo o mais necessário aos ofícios religiosos. Foi a partir do denodo e da perseverança destes jovens que as sepulturas ao lado da igreja foram cuidadas, que os matos deixaram a constância da paisagem, que as pessoas passaram a visitar com menos sofrimentos os seus entes ali sepultados. Hoje há até um pórtico dando as boas-vindas aos visitantes.
Foi assim, a partir desses jovens, que a Capela de Santo Antônio do Poço de Cima, ou apenas a comumente chamada Igrejinha do Poço de Cima, renasceu das cinzas e dos escombros do abandono. Atualmente, missas são celebradas, procissões saem da matriz em sua direção, novenas são realizadas, há, enfim, o renascimento tão merecido daquele histórico e tão nosso templo cristão, todo perpassado pela história e pela religiosidade de um povo.
Ontem mesmo recebi a cordial visita de João Vitor no Memorial Alcino Alves Costa, em Poço Redondo. Relatou-me sobre os preparativos para o Trezenário de Santo Antônio em junho próximo, culminando com um grande evento religioso na Igreja do Poço de Cima, com procissão, missa, queima de fogos, os Pífanos da Família Vito e acompanhamento de cavaleiros, dentre outras manifestações. Tal fato demonstra que estes jovens continuam irmanados e constantemente se esforçando para que nosso primeiro templo continue orgulhando a todos.
Mas não é diferente com os jovens de Bonsucesso, povoação ribeirinha de Poço Redondo. Os jovens ribeirinhos parecem chamar para si as responsabilidades maiores sobre a manutenção, preservação e disseminação, de seus bens históricos, culturais e artísticos. São eles que se reúnem para limpar cemitérios, para limpar as beiradas do rio, para cuidar de tudo que diga respeito à sua povoação. E ainda por cima se expressam magistralmente em Reisados, na Dança de São Gonçalo, nos Cordões das Pastorinhas, nas Cavalhadas Mirins, dentre tantas outras manifestações.
Não se pode esquecer também da juventude que ajuda no dia a dia da paróquia de Poço Redondo. Quem dera mais jovens assim, mais grupos de jovens assim, unidos e irmanados no objetivo maior da preservação de sua religiosidade e de suas raízes.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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