SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



quarta-feira, 10 de maio de 2017

Palavra Solta - o mistério da boneca de pano


*Rangel Alves da Costa


Numa das salas do Memorial Alcino Alves Costa em Poço Redondo, sertão sergipano, há uma estante onde duas bonecas de pano estão assentadas ao lado de outros objetos artesanais. Tudo normal, bonito, atraente demais. Mas um fato sempre me deixa curioso, pois um verdadeiro mistério envolve uma daquelas bonecas. Verdade é que quando estou sozinho naquela sala, seja de dia ou de noite, sempre ouço a boneca dando psiu pra mim. Mas um psiu namoradeiro mesmo, de paquera, de tentar chamar minha atenção mesmo. “Psiu, psiu, psiu...”. Olho e ela parece piscar o olho, e pisca mesmo. Faço de conta que nada vejo ou ouço, e novamente “Psiu, psiu, psiu...”. Outro dia segurei-a nos nas mãos, alisei os seus panos, acariciei seus cabelos, e ela parecia sorrir de contentamento, fazendo até surgir nas bochechas um tom mais avermelhado. Mas se minha namorada chega ao meu lado, seu semblante muda completamente. É com se fechasse os olhos raivosa. Mas quando eu retornar vou logo avisar que estou solteiro e assim desejo continuar. E que ela pare de me paquerar. Quem já se viu uma boneca de pano querer namorar um homem de barro?


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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