*Rangel Alves da Costa
As casas
são como as pessoas. As casas nascem, vão sofrendo desgastes, deteriorando em
suas fachadas e entranhas, envelhecendo nos seus ambientes, para um dia, enfim,
serem apenas memórias.
As casas
são como os retratos que vão perdendo a cor, que vão amarelando até
embranquecerem de vez. São como as molduras as molduras grandes, bonitas, de
madeira de lei envernizadas e parecendo eternas, mas que num tempo da vida vão
sendo tomadas de cupins até se tornarem em nada.
As casas
são assim, tão vivas quando construídas e tão mortas depois do abandono e da
destruição. Paredes que racham, pisos que vão se soltando, goteiras que vão
surgindo das coberturas, frestas por todo lugar. A porta já não fecha direito.
As janelas cheias de brechas e de madeira carcomida.
Em Poço
Redondo, na Praça da Matriz e arredores, muitas casas já nasceram e já
morreram. Já tiveram seus tempos de presenças, vozes e vivacidades, mas também
já sumiram na força foram do tempo e da idade. A mais imponente das casas já
não existe mais.
O casario
de China do Poço e Mãeta resta somente em retratos. Poço Redondo ainda se
recorda da imponente casa de esquina, com janelas e porta grandes, traços
arquitetônicos esmerados, toda uma feição de pujante presença. Foi derrubada
antes de envelhecer de vez e, em escombros, tornar-se apenas em poeira e pó.
A
arquitetura grandiosa da casa de Dona Celina e Seu Chico Barbado (casa de
Mariano e Terezinha) deu lugar a fachada moderna, naquela feição quase sempre
igual dos modernos azulejos e cerâmicas. Uma casa qualquer, pode-se dizer.
Uma ou
outra casa ainda persiste com a mesma fachada, tendo recebido apenas uma ou
outra pintura. Sobressaem-se, contudo, duas casas vizinhas, parede com parede,
história com história. A antiga casa de Seu Zé de Lola e Dona Quininha continua
no mesmo aspecto de antigamente, naquele mesmo formato de sua originária
construção.
Ante sua
visão, logo se percebe uma diferenciação das demais, porém não muito da casa ao
lado, esta pertencente a ao Sr. Gabriel Feitosa. Nas duas casas ainda os
testemunhos daquele Poço Redondo de antigamente. E nas duas a vivência de dois
parentes, um tio e uma sobrinha.
Ao
entardecer, Neném, atual guardiã e filha de Dona Quinininha e Zé de Lola,
senta-se na calçada esperando o sopro da brisa boa. Logo ao lado, geralmente no
mesmo horário, Seu Gabriel começa a avistar o mundo enquanto vai abrindo as
portas de suas vastas recordações.
De poucas
palavras, sem gostar de falar sobre seus caminhos na vida, apenas revive por
dentro os idos de um sertão inteiro. As duas casas ainda estão vivas,
presentes, parecendo eternas naquele local. Tudo passa, tudo se transforma, e
elas continuam ali.
E que
continuem ali, continuem sendo páginas vivas de nossa história. Poço Redondo
precisa manter e preservar o que lhe resta como escrita daquele passado
vivenciado na força e na tenacidade de um povo.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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