*Rangel Alves da Costa
Já é noite. Noite preta, fechada, de breu.
Noite de pouca lua, de pouca estrela, de pouca luz. E uma noite muito
apropriada ao passeio dos noturnos bichanos. Mas eles ainda não apareceram.
Estranho que assim aconteça, pois por aqui, basta a noite chegar que eles vão
surgindo de todo lugar. Gato de toda cor. Vão entrando pelas portas, surgem
pelos cantos, vão marcando presença. Não demora muito e já estão no telhado. E
quanto mais a noite avança mais eles se mostram presentes em miados, em
caminhadas, em desavenças, em mios agourentos, quase em silvos. Os seus
cortejamentos são terríveis, pois em miados demorados, repetidos e lamuriosos.
Mas hoje, ou até o momento, eles não apareceram. Também não ouço nenhum chiado
de gataria. Contudo, sei que estão por perto ou já no telhado. Não creio que
tal silêncio seja por tristeza felina ou solidão bichana. Talvez estejam
enamorando o pouco de lua e buscando inspiração para os amorosos mios de mais
tarde. Muito perigoso esse silêncio dos gatos. Lembro-me que doutra vez que
assim aconteceu eu quase não durmo. Da meia-noite em diante os enlaçamentos
amorosos se fizeram tão barulhentos que tive de intervir com gritos. E, por
fim, um casal de gatos desabou lá de cima e foi terminar os gemidos bem rentes
à minha janela.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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