*Rangel Alves da Costa
Viver é também pensar, refletir, meditar. E
também sofrer pelo que vem ao pensamento. A insensibilidade esconde ou escolhe
o que for mais confortável ao pensamento. Contudo, apenas uma fuga ou evidente
descompromisso com a realidade. Não posso negar nem esquecer as realidades tão
conhecidas. Sei que neste momento há muita criança sem pão, há muito prato sem
nada, há muita panela vazia. E não arranco pedaço de mim se eu pensar sobre
isso. Sei que neste momento há muito pé no chão por falta de sandália, há muita
porta fechada e escondendo as dores da pobreza e da aflição. E não posso omitir
em mim a existência de tal realidade. Sei que há muita parede caindo, muito
fogo sem brasa, muita fome e muita vergonha de pedir. Posso negar que isso
acontece? Sei que há muito enfermo sem ter remédio, há muita dor sem
comprimido, há muita conta a pagar e alguém se aproximando para cortar a água e
a luz. Realidades que não podem ser negadas a ninguém. Sei que muitos zombam da
pobreza dos outros, que passam pela pobreza e sequer têm coragem de encarar a
situação, que sequer se preocupam se tantos e tantos simplesmente padeçam ao
deus-dará. Penso sobre tudo isso, e quanto mais eu penso mais meus olhos
testemunham sua existência. Impossível mudar o mundo e sozinho transformar as
realidades sofridas. Mas a sensibilidade torna possível estender a mão,
dialogar, ajudar, procurar soluções, e até, num instante de grandeza
espiritual, desprender-se de si mesmo e orar pelos outros, pelos necessitados.
E assim por que o a vida é nossa, de cada um, mas a existência é do
Eclesiastes: tudo muda, até em você!
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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