*Rangel Alves da Costa
Que absurdo, diz o puritano. Que coisa
desavergonhada, diz o conservador. Que coisa mais pecadora, diz a beata. Que
coisa mais feia, diz a enrustida. Que coisa mais gostosa, diz qualquer um.
Realmente, falar em pornô espanta, assusta,
avermelha, faz estremecer, torna o corpo em brasa. E logo chega um prazer: Deus
me livre. Isso é coisa de rapariga e de homem safado. E mais safado ainda quem
gosta de assistir.
Pornô. Um sexo qualquer ou um sexo diferente?
Por que é geralmente visto como pecaminoso, escandaloso, impróprio, se tão
normal nas intimidades humanas?
Pornô. Por que proibido para menores de
dezoito anos se atualmente o sexo já aflora desavergonhadamente bem antes disso
e que já não há inocência alguma depois dos quinze anos de idade?
Pornô. Em cada filme, em cada cena, um Kama
Sutra de páginas abertas ou um manual libidinoso para pessoas reconhecerem suas
próprias possibilidades sexuais? Ou apenas um livro já escrito na mente e
somente visível através dos outros?
Pornô. Por que tanto mistério, tanta
curiosidade, tanta proibição, se a grande maioria das pessoas se sente
prazerosamente bem em assistir? Por que essa grande parte que assiduamente
assiste é a mesma que sempre nega sua existência?
Pornô. Livros, revistas, filmes, tudo como um
remédio de tarja preta, nunca acessível a todos. Livros com capas camufladas,
revistas encobrindo cenas picantes, filmes com cartazes escondidos. Assim
antigamente.
Pornô. Por que nomear revistas com temas
sexuais ou cenas de sexo de revistas masculinas, femininas ou para púbicos
exclusivos, segundo suas orientações sexuais? Por que proibir o que todo mundo
lê, assiste, pratica?
Pornô. Não mais como antigamente, mas ainda
existem cinemas dedicados exclusivamente a exibição de filmes pornográficos. Os
cartazes já não escondem nada e nem as pessoas precisam entrar e sair como que
camufladas dos cinemas.
Pornô. Ainda hoje, nos locais onde os cinemas
exibem cartazes de filmes de sexo explícito, muitas pessoas se sentem
verdadeiramente aviltadas com tamanha falta de vergonha, num verdadeiro
atentado ao pudor. E até evitam passar pelas ruas dos cinemas.
Pornô. Os filmes pornográficos ou de sexo
explícito continuam sendo, em muitos casos, verdadeiros fetiches para muitos.
Não raro que prefiram assistir cenas de sexo a praticar o próprio sexo. Seus
prazeres somente afloram com as cenas pornográficas.
Pornô. O termo pornô é tão apelativo que
mesmo o que não é pornográfico assim se intitula para atrair pessoas. Exemplo
disso são as pornochanchadas ou filmes eróticos. Na pornochanchada apenas
insinuações, enquanto no erotismo apenas a conotação sexual.
Pornô. Há de se indagar qual o sentido sexual
dos atores de sexo explícito. Enquanto personagens, apenas atuando para dar
verossimilhança às cenas. Mas o sexo praticado pode ser sempre fingido ou os
prazeres da carne também afloram entre uma cena e outra?
Pornô. Ora, nada do que é mostrado em filmes
de sexo explícito diferencia-se da realidade entre casais. Muitos destes até se
orientam pelas cenas nas suas relações amorosas. Então, por que se distinguirem
duas realidades diferentes no mesmo sexo?
Pornô. Comumente se diz que ator e atriz
pornô não sente prazer, apenas finge aquela emanação sexual toda. Também
comumente se diz que até o mais breve gemido é ensaiado para que assim
aconteça. Mas que máquinas de mero fingimento são tais personagens?
Pornô. Necessário observar que atores e
atrizes de filmes pornográficos não deixam de serem homens e mulheres quando
contracenam. Como um ator, por exemplo, se mantém em estado de ereção se apenas
finge o sexo? Como uma atriz se entrega de tal forma sendo apenas máquina?
Pornô. Necessário ainda observar outro fator.
A pornografia geralmente vem da prostituição. Esta geralmente vem da oferta de
prazer em troca de dinheiro. Mas por que a prostituta pode aflorar seu desejo
sexual e a atriz pornô não, como se aquela se transformasse em outra através de
filme?
Pornô. Por que o denominado pornô de arte não
é o mesmo pornô explícito? Quem assistiu O Império dos Sentidos conhece essa
dimensão. Muitas vezes, a insinuação é mais apelativa que a mera demonstração
carnal. Assim também com A Dama do Lotação e tantos outros filmes.
Pornô. Não se pode negar que muitos desejam
fazer de cada relação sexual um filme pornô. Mas o que impede? O moralismo, o
conservadorismo, o outro? Mas tudo é sexo. E só é explícito quando feito para
os outros e não para dois.
Agora mesmo, nesse exato instante, o pornô
acontece. Na tela, na cama, no pensamento. Neste caso, o pecado não mora ao
lado, mas dentro de cada um.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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