*Rangel Alves da Costa
No meio do mato, sempre acompanhado por um
cachorro, nas entranhas da Fazenda Coruripe em Poço Redondo, sertão sergipano,
eu acabei chegando ao local onde foi enterrado o cangaceiro Canário em 38,
morto à traição pelo também cangaceiro Penedinho. Enterrado sem a cabeça, vez
que a mesma fora levada como troféu macabro por Zé Rufino, terrível e temido
caçador de cangaceiros. É por isso que Totonho Catingueira dizia: “Vosmicê num
pisa no chão de Poço Redondo pra num pisar num rastro de cangaceiro ou de
volante. Tomem num anda num lugar pra não sentir um vurto de cabra estirado. A
mata aina zune. Aina hoje, eu mermo só entro no mato com medo daquelas
aparição, daqueles homens de sangue nos óio e venta sortano fogo. Poço Redondo
num era nem pra se chamar Poço redondo, mai Poço do Cangaço. O cangaço inté
parece que foi todim aqui. Ali foi um fogo, acolá foi uma emboscada, mais
adiante um acaba-mundo da gota serena. É cuma aina a sombra de Lampião tivesse
aqui, tomem de Corisco, de Zé Sereno, de Corisco, de Mané Moreno e tudo mais. É
cuma aina a gente ouvisse a bala zunindo e o grito de dor. Menino, foi um
escorrimento de sangue de num acabar mais. Eu mermo aina sinto o cheiro
suarento do cangaço e o fedor da volante. Pro todo lugar existe cangaço, e aina
como se o medo deixasse o cabelo em pé. Conheci a Véia Gerusa que mermo
adespois da morte de Lampião ainda continuava com saco arrumado pra correr a
quarqué hora. O maluquim Oreba continua dizeno que toda noite sonha com a
cangaceirama e que Lampião virou rei com coroa e tudo, e que seu reinado é
pelas banda da Maranduba, debaixo de um daquele sete umbuzeiro. Sei não, viu.
Sei não... Eita Poço Redondo das história cangaceira. Mai vou dizê uma coisa,
sem medo de errar: se as morte do cangaço fosse todinha marcada em cruz, entonce
Poço Redondo todim era um cemitero. Pro todo lugar haveria de ter uma cruz,
aqui debaixo dos meus pé, ainda debaixo do seu...”.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário