ESTÓRIAS DOS QUATRO VENTOS: A APAIXONADA CHORONA
Rangel Alves da Costa*
Conto o que me contaram...
Dizem que num lugar pra lá de mais além, mais distante do que a lonjura do vento, morava uma moça de triste sina. Apaixonada, perdidamente apaixonada por um jovem galante, entregou-se de corpo e alma e algo mais.
Ocorre que o atraente e intrépido galã sertanejo experimentou a fruta a se fartar e não demorou muito para pensar em meios de ir se afastando devagarzinho de sua apaixonada. Pegou do bem-bom e depois quis jogar o corpo fora.
Ensaiou uma traição, porém ela dizia que seria a outra sem nenhum pudor; disse que havia repensado sua vida e que havia nascido para gostar de homem e não de mulher, mas ela disse que não vivia sem ele; inventou que ia trabalhar bem longe, mas ela disse que esperaria. Agora danou-se, pensou o cabra intrigado.
Então dormiu com ela mais uma vez e já pela manhã sumiu de vez do lugar. A moça andou e revirou, perguntou a todo mundo, buscou em canto e beco, pagou a moleque pra ir atrás do seu rastro, porém nada de sombra do rapaz.
Passou uma semana e outra, somente depois resolveu procurar a família dele e explicar a situação. E disse que ele havia sido o primeiro e único homem a deitar com ela e que, por isso mesmo, havia se apaixonado de tal forma que não conseguiria mais viver sem ter a sua costelinha ao seu lado.
A família simplesmente disse que não podia fazer absolutamente, que a melhor coisa que ela fazia era ou se desapaixonjar ou arrumar outro homem, pois o rapaz havia entrado no oco do mundo sem dizer a nada pra onde ia ou se ia voltar algum dia.
Ao ouvir isso, a moça se encheu de ataques, começos de desmaios, até que desabou de vez. Acordou com uma balde de água jogado na cara e o pedido pra que fosse embora atrás de outro homem imediatamente. Ela saiu, porém não sem antes jurar que dali em diante se colocaria em permanente estado de viuvez, vestida de preto e pranteando seu desaparecido amor.
E foi isso mesmo que fez. Desse dia em diante parecia uma viúva velha, de roupão preto até abaixo do joelho, toda chorona, lacrimejando incessantemente e sempre com um lenço, também negro, à mão. Costumava ficar olhando adiante através da janela, passeando pelos campos ao entardecer, mirando a lua, conversando com o vento. Mas sempre chorando e perguntando por seu amado, se a brisa o tinha visto, quando ele iria voltar.
Se chovia, chorava em cântaros pela solidão do momento; se o vento soprava forte, chorava mais ainda esperando ele chegar pelo ar; se a noite se abria, chegava a soluçar avistando-o em toda estrela; dormia chorando, sonhava chorando, acordava pra chorar ainda mais.
Ninguém a aceitava na igreja por causa do chororô; foi confessar e se viu expulsa porque não conseguiu dizer uma palavra sequer, a não ser chorar; comia enchendo o prato de lágrima; se tivesse sede bem que podia beber das próprias lamentações.
Mas um dia o mar dos olhos secou. Ela tirou o luto e resolveu não vestir mais roupa nenhuma. Querendo andar nuazinha atrás de homem e chamando pelo nome do desaparecido, foi prontamente levada ao hospício. Dizem que até hoje continua lá, mandando recados pelas borboletas.
Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
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