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quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

PROVÁVEIS HIPÓTESES SOBRE A MORTE DO AMOR (Crônica)

PROVÁVEIS HIPÓTESES SOBRE A MORTE DO AMOR

                                    Rangel Alves da Costa*


Não gosto nem de lembrar. Coisa mais terrível, chocante, assustadora. Um amor que parecia ser duradouro, cheio de mimos e afagos, e de repente morto, acabado, destruído.
Estava lá estendido, jazendo sem vida, silenciosamente quieto no leito da manhã. Um semblante ainda guardando certa vividez, um tom enrubescido na pele, parecendo até mesmo que apenas adormecia esperando a sorte dos anjos.
Mas fato é que estava morto, irrefutavelmente sem vida. Mas teria morrido de que o amor?
De morte natural não haveria razão de ser. Mostrava plena força, vigor, saúde, alegria, disposição para os enfrentamentos da vida. Nunca reclamou de nada, de nenhum sintoma, nunca disse que suspeitava alguma coisa. Aliás, até ontem estava aos beijos e abraços, sorridente caminhando de mãos dadas com a sua paixão.
Também não haveria de se cogitar suicídio. Chega até ser impensável imaginar o amor se destruindo com as próprias mãos, usando como arma os próprios sentimentos. Não, isso não. Era um amor amante, gostava de amar e ser amado, partilhar carinho e compreensão, fazia planos maravilhosos para o futuro. E duvido que pudesse modificar os seus planos se desamando assim, a ponto de se auto ferir no coração.
Morte súbita, ataque cardíaco, algum problema que fez o coração disparar e parar. Talvez tenha sido, pois o amor amava demais e o coração de quem ama assim nunca está imune ao surgimento de repentinos problemas. Mas o que teria feito o amor sofrer tanto para não suportar um distúrbio no lugar que mais conhecia, que era precisamente o coração?
O amor teria sido envenenado, com uma dose de veneno tão sutil que não havia deixado nenhum sintoma aparente de que teria sido consumido, devastado por dentro? Certamente que não se pode deixar de cogitar sobre tal hipótese. Por mais que o amor tenha amado, o fez acreditando apenas no seu poder de amar, sem ter a certeza de que o outro correspondia na mesma medida. Então surge a cruel indagação: e se aquele que fingia amar envenenou com palavras o amor que não suportou a dose de infidelidade e covardia e morreu?
Ou será que o amor não morreu, apresenta apenas um quadro de morte aparente, aquele mesmo onde há um estado transitório de perda das funções vitais, provocada por sincopia, asficticia, apoplexia ou traumatismo. Se for sincopal, a causa provável foi um estado de choque profundo no coração; se for asfíctica, tudo leva a crer que pode ter sido causada por alguma visão ou notícia que paralisou seus mecanismos de respiração; se for apoplética, poderá ter sido por congestão daquilo que teve de engolir e tentou suportar para manter a relação; se for traumática, provavelmente foi ocasionada pelas desilusões amorosas que de repente surgiram.
Contudo, por mais que possa buscar causas para a morte do amor, ainda assim será incompreensível demais atentar para o fato de que ele não existe mais. A não ser uma morte aparente, de resto ele não existirá mais tão lindo e encantador como era, tão seguidamente tido como exemplo para todos aqueles que procuram, através de suas possibilidades, a paz, o fortalecimento interior, a beleza da vida a dois.
Sou daqueles que preferem acreditar na continuidade da vida, na impossibilidade de que o bem possa morrer completamente, esvanecer como uma nuvem que não passará mais sobre o ceu. Acredito que a força do bem que se diz ausente se emana perpetuamente entre nós. E haverá bem maior do que o amor, do que o verdadeiro amor?
Por isso mesmo o amor não morreu e jamais morrerá. Não se pode concluir diferentemente se ainda existem aqueles que amam de coração, que respeitam seu par, que fazem da conjunção de vidas o motivo maior para vencer as barreiras da existência. Não poderia imaginar viver sem o amor que tenho, que sinto, que continuamente busco. De sua imortalidade é que eternizo também o amor que viverá em mim até que os dias me chamem, deixando na terra o amor semeado.
E não se poderia esquecer que o amor é presença constante e renascimento, espiritualidade que se eterniza naqueles que amam.



Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

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