Poema com rosto (e nome)
Roubei o espelho
escondi a fotografia
derramei o perfume
joguei fora o batom
atirei pela janela
anéis e braceletes
correntes e brincos
deixei a porta aberta
para pensar que alguém
fez isso em meu lugar
coloquei sobre a cama
uma concha de mar
uma garrafa navegante
com um antigo bilhete
espalhei na penteadeira
folhas secas da estação
coloquei na parede nua
um espelho de sol
emoldurado de tanta lua
e depois ficarei esperando
que o espanto por tudo
faça você pensar
que está enlouquecendo
e não acredite ainda em nada
nada do que ler, ver e ouvir
a concha ecoando que amo
o bilhete dizendo que quero
as folhas espalhando poemas
e o espelho esperando apenas
que sorria de felicidade
ao me ver surgir e confirmar
indubitavelmente tudo.
Rangel Alves da Costa
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