Memória de sol
Tenho sol na moleira
sol queimando na soleira
sol quente da vida inteira
e tenho sangue na mão
sangue no fio do facão
sangue desse sertão
e tenho a tocaia em mim
tocaia ao inimigo dá fim
tocaia de moita e capim
e tenho jagunço escondido
jagunço eu arrependido
jagunço demais sofrido
e tenho canga e cangaço
cangaço que foi meu passo
destino com esse traço
e tenho muito inimigo
inimigo que é meu amigo
inimigo bom no jazigo
e tenho esse passado
passado no chão andado
na luta encurralado
e tenho essa minha história
história sem ter memória
história de perder e vitória
e tenho ainda o presente
presente comigo ausente
presente tão descontente
e tenho ainda o futuro
uma estrada no escuro
ou um jardim atrás do muro.
Rangel Alves da Costa
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