À sombra do sol
Sou eu mesmo
aquele que arrumou o alforje
que juntou farinha e rapadura
aquele que fechou a porta
que seguiu pela estrada
aquele que olhou pra trás
que chorou por dentro
e depois sorriu entristecido
uma casa, uma árvore, um olhar
um cachorro, um prato, uma cuia
uma rede, um sono, um grito
um estranho, uma gente, um povo
um sol, uma noite, uma lua
uma prece, um toque, um canto
tudo isso arredor e mais adiante
e tudo meu tão desconhecido
que nem bom dia ou boa tarde
pude dar pra fazer amizade
e ninguém me olhou e me viu
por isso que cheguei sem estar
e segui adiante sem ter passado
nem lembro mais onde vou
nem recordo onde quero chegar
as coisas que carrego comigo
nada me fazem lembrar
a não ser essa flor que levo
essa rosa que levo na mão
lembrei, agora lembrei onde vou
entregar pessoalmente essa flor
entregar pessoalmente o que resta
do canteiro florido que ela plantou.
Rangel Alves da Costa
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