ESTÓRIAS DOS QUATRO VENTOS: A INVEJOSA
Rangel Alves da Costa*
Conto o que me contaram...
Pelo próprio conceito já se sabe que não é coisa que preste, que é uma das piores características que o ser humano pode ter. E tudo mundo sabe disso, todo mundo diz que odeia e até recrimina o outro, mas no fundo do fundo essa tal de inveja está mais presente nas pessoas do que elas próprias imaginam.
Talvez todo mundo saiba de cabo a rabo o que é inveja, e não precisava nem estar abrindo livro para tomar conhecimento, bastando olhar nas atitudes do vizinho ou de si mesmo, e por que não? Tem gente que sente inveja até de si próprio, que o diga o outro que encobriu o espelho.
Os opúsculos dizem que a inveja é o misto de desgosto e ódio provocado pelo sucesso ou pelas posses de outrem; é o desejo intenso de possuir os bens de alguém ou de usufruir sua felicidade; é a vontade ou ambição de possuir ou gozar algum bem que outrem possui ou desfruta.
Enfim, a inveja é aquilo que vai secando o invejoso por não possuir ou conseguir aquilo que o outro possui, às vezes com exagerado esse esforço. O pior é que o invejoso quer apenas ter o que o outro tem de mão beijada, com facilidade, sem bater prego numa barra de sabão. Ora, logo pensa, se o outro tem porque não posso ter. Mas trabalha igual ao outro? De jeito nenhum.
Porque o outro tem e ele não tem, então começa a lançar o olho gordo, nojento, em cima da posse daquele. Muitas vezes, por saber que não conseguirá obter aquilo, implora por tudo na vida para que o desafeto imaginário se veja sem aquela conquista.
Gente safadinha, calhorda, vil, é a invejosa. Uma vizinha que não tinha o que fazer, subia num banquinho pra ficar mirando com olhos de inveja o jardim florido da vizinha. Cada vez que olhava e via plantas reluzentes, verdosas, flores sedosas e perfumadas, só faltava se morder de raiva.
Dava-lhe uma comichão, um avermelhamento na pele, uma mijadeira que ficava em tempo de se esborrachar pelo chão. Mas ficava ali, olhando no escondidinho, maldizendo a vida das plantas, desejando por tudo no mundo que elas secassem, as flores caíssem e tudo morresse. Mas para seu desgosto nada disso acontecia.
E porque suas preces e orações para que o jardim da outra ficasse completamente destruído não surtiam efeito, então resolveu que teria um jardim igual, com plantas e flores ainda mais bonitas ali na frente de casa. E foi numa loja de enfeites para o lar e comprou o Jardim Suspenso da Babilônia, as Tulherias, os jardins de Burle Marx, mas tudo de plástico.
Mandou instalar aquela parafernália nos muros de casa e ficou alucinada com tanta beleza. Cores demais, flores de todos os tipos, uma grama verdinha que parecia pintada à mão. Toda contente, ainda assim subiu no banquinho para fazer a comparação necessária com o autêntico jardim da outra.
E foi quando percebeu uma coisa que lhe atingiu como golpe fatal. Borboletas voavam ao redor, passarinhos faziam festa, um beija-flor beijava uma flor, e um perfume intenso e gostoso se espalhava pelo ar. Tudo daquilo que não poderia ter, e num desequilíbrio se esborrachou por cima de um girassol de polietileno.
Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
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