ESTÓRIAS DOS QUATRO VENTOS: “LURDINHA, NUM CHORE NÃO!”

ESTÓRIAS DOS QUATRO VENTOS: “LURDINHA, NUM CHORE NÃO!”

                                          Rangel Alves da Costa*

Conto o que me contaram...

“Lurdinha, num chore não!”. Era assim que todos os dias o poeta andarilho dizia ao passar diante da janela da linda, solitária e sempre chorosa mocinha.

Logo ao amanhecer, na primeira caminhada do dia ao se dirigir para o campo em busca de inspiração, o tristonho e apaixonado poeta, com olhar mais choroso do que o da bela mocinha, ainda assim passava pela janela e dizia “Lurdinha, num chore não!”.

Ao entardecer a mesma coisa, no mesmo passo, no mesmo percurso e no mesmo entristecimento de quem está perdidamente apaixonado. Ao longe, assim que avistava a doce mocinha, dizia a si mesmo que daquele momento não passaria, que iria se dirigir até a janela, se ajoelhar de flor à mão e dizer de todo amor que sentia.

Contudo, ao se aproximar mais viu que não encontrava as palavras certas para expressar tanto amor e ao passar diante dela, encontrando-a como se estivesse noutro mundo, de olhas vagando pelo espaço, deixando um filete de lágrima escorrer pelo rosto, ele simplesmente disse “Lurdinha, num chore não!”.

Já sentado na Pedra do Pôr do Sol, o lugar mais bonito que podia existir para apreciar as belezas do entardecer, o poeta puxou do bolso seu caderninho, pegou da pena na outra mão, esperou chorar por três minutos contados, depois suspirou dizendo o nome dela e começou a rabiscar:

Lurdinha, num chore não

esse sofrimento no olhar

faz doer meu coração

coração dolorido sem amar

é como rio sem direção

me perco nesse navegar

sem dizer da minha paixão

por isso faça a lágrima enxugar

não fique na janela ao desvão

me olhe quando eu passar

me acolha em seu coração

porque eu não quero chorar

Lurdinha, num chore não!

Desceu da pedra feliz, até pulando de contentamento. Tinha certeza que aquele poema seria como chave para entrar no coração da bela mocinha e assim nunca mais haver nem entristecimento nem lágrima. Por isso mesmo tomou uma decisão meio amalucada, que era dormir ali mesmo, orando mais perto de Deus para que tudo desse certo. E logo cedinho passaria diante da janela e ao invés de dizer “Lurdinha, num chore não”, iria até lá entregaria o poema.

Alguém ouviu os seus rogos, sua imensa vontade de ser correspondido no amor. Assim que entregou o bilhete foi a última vez que Lurdinha chorou. Só que de amor...

Poeta e cronista

e-mail: rangel_adv1@hotmail.com

blograngel-sertao.blogspot.com