ESTÓRIAS DOS QUATRO VENTOS: MANDINGA PRA NAMORAR
Rangel Alves da Costa*
Conto o que me contaram...
A solteirona não mais sabia o que fazer pra arranjar namorado. Um tipão, vistosa como era e ainda por cima cheia da bufunfa, até que muito homem vivia flertando na esperança de alguma resposta. Assim o problema não era falta de homem, mas daquele que ela cismou de querer como namorado, amante ou seja lá o que fosse.
Verdade é que estava apaixonada por um rapaz e pronto. Sendo assim, outro podia aparecer pintado de ouro que ainda assim ela nem olhava. Só havia um probleminha nisso tudo: o rapaz não queria nada com a solteirona. Por mais que ela enviasse presentes, até um cordão de ouro mandou, ainda assim ele vivia dizendo que antes morrer solteiro do que namorar com a dita.
Assim que soube da relutância do jovem, a moça ficou em tempo de se acabar. Chorou três dias e três noites, fez promessa pra Santo Antonio Casamenteiro e mandou fazer uma proposta que parecia irrecusável. Se ele resolvesse cair nos seus braços, com beijos, abraços, afagos e tudo mais que tivesse direito, ela daria o presente que ele quisesse, bastando responder com um sim e depois escolher.
Mas não teve jeito. Como resposta ele mandou dizer que só quando a vaca tossisse é que ele olharia na face dela. O que para todo mundo era um absurdo, para ela simplesmente chegou como esperança, pois viajou no mesmo dia para uma cidade onde havia veterinário e exatamente para saber se havia como ele fazer uma vaca tossir. Saiu de lá com a incumbência de comprar uma vaca e entupi-la de água gelada e sorvete. Problema sério pra resolver.
Antes de comprar a vaca para fazê-la gripar e depois começar a tossir, a já desesperada solteirona ouviu dizer que por ali, lá pelos escondidos da cidade, havia uma velha senhora, num misto de rezadeira e aprendiz de feiticeira, que bem poderia resolver seu problema. Segundo informaram, não havia pessoa mais capacitada nas artes da magia, das poções milagrosas e encantamentos para fazer com que o relutante rapaz caísse de joelho a seus pés.
Até que foi fácil encontrar o recanto da magia amorosa. A velha senhora disse o preço e o que precisava pra fazer o rapaz ficar apaixonado em dois tempos. Nunca havia falhado com mandinga pra namorar, tendo já casado gente e amarrado muitos outros para não separar. Então pediu uma fotografia dele, um fio de cabelo e um papel contendo o nome e o endereço.
Tudo providenciado, a mandingueira deu dois dias pra ele se achegar dela. Contudo, cinco dias se passaram e nada. Então ela foi reclamar e ouviu que estava precisando de outra coisa para o feitiço ficar mais forte. E pediu uma cueca dele. Arrepiada só em ouvir falar em cueca, disse que pagaria a alguém para ir procurá-la no varal. Dito e feito, pois depois de beijar a peça íntima mais de mil vezes, se encaminhou até lá para entregá-la.
Entretanto, mais dez dias se passaram e nada. Resolveu ir reclamar com a mulher e ouviu dela que havia encontrado uma solução para o problema. Se pagasse outra quantia, ela mesma o traria até ali para jogá-lo em seus braços. Então ela pagou mais que o dobro, toda esperançosa e já sentindo o corpo se encher de ardências.
Dinheiro na mão, a feiticeira disse só precisava de uma coisinha mais, e simplesmente que ela ficasse nuazinha como nasceu em cima de uma cama esperando ele chegar. Se ele gostasse do que ia ver então estava tudo resolvido, senão nem com milagre ia dar jeito. Então ela chorou mais dez dias e dez noites seguidas até enlouquecer e viver completamente nua na janela esperando ele passar.
Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
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