SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



sábado, 18 de fevereiro de 2012

ESTÓRIAS DOS QUATRO VENTOS: PEQUENAS COISAS, IMENSA BELEZA

ESTÓRIAS DOS QUATRO VENTOS: PEQUENAS COISAS, IMENSA BELEZA

                                          Rangel Alves da Costa*



Conto o que me contaram...
Não há que se duvidar que pessoas existam que são realmente especiais. Não que sejam portadoras de síndromes, mas trazendo em si encantamentos diferentes que pessoas comuns não possuem.
Joãozinho tinha o dom de ser amigo e conversar com os bichos. Os mais velhos chegavam pra ele e pediam para que perguntasse à andorinha se noutras distâncias do horizonte havia nuvens enegrecidas, carregadas de chuvas, indo naquela direção para tirar o povo de tanto sofrimento causado pelas estiagens.
Perguntava ao passarinho, porém sabendo que o povo ia continuar entristecido, preferia dizer que o seu amigo havia avistado, porém muito longe e por isso mesmo não sabendo ainda dizer se estavam carregadas de chuvas ou não. Mas prometia que amanhã voltaria pra aquelas bandas e voaria mais distante em busca de boas notícias. E o sertanejo se tomava de esperança novamente. Como sempre...
Clarinha se transformava em borboleta quando a primavera chegava. Mas não o dia todo nem toda hora, apenas quando ela queria. E borboleta “asa de vidro”, como ela dizia. A mais bela, a mais bonita. E não surgia de uma lagarta como as outras não, mas do simples ato de fechar os olhos, bater as asas e sair voando. Num instante e já era Clarinha borboletinha.
Fazia isso logo cedinho ou já ao entardecer. Assegurava-se de que seus pais não estavam em casa para ficar vigiando o seu quarto, então se dirigia pra pertinho da janela e lá fazia a transformação. Batia docemente as asas e aproveitava a calma do vento para fazer bailados no ar, dar rasantes perto das folhagens e pousar por cima das flores do campo. Depois seguia até o jardim para encontrar sua amiga Teté, que também tinha o dom da transformação.
Na verdade Teté já devia ter nascido flor. Contudo, havendo nascido gente, criança bonita que infelizmente vivia abandonada e vagando pelas ruas, praticamente morava num jardim da cidade. Assim, era menina flor, porém pétala entristecida, faminta, de olhar triste e distante, frágil demais e de cor indefinida.
Depois de vagar pelas ruas com suas mãos de esmola, catando alimento no lixo e pedindo pão, ao entardecer já chegava cansada ao jardim. Deitava em meio aos canteiros e assim que adormecia se transformava em flor. E quem passeasse por aquela praça não encontraria a menina deitada, mas sim a flor abandonada e misturada ao encanto das outras flores.
E assim, a borboleta Clarinha chegava ali e pousava bem ao lado da flor Teté. Perguntava como havia sido o seu dia e como estava, e como resposta sempre ouvia que estava como Deus permitia, porém o seu medo maior era não passar da próxima estação.


Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

Nenhum comentário: