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A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



sábado, 25 de fevereiro de 2012

A MAIS BELA DE TODAS (Crônica)

A MAIS BELA DE TODAS

                                Rangel Alves da Costa*


Incontestavelmente, sem a menor dúvida, ela é a mais bela de todas. Não somente a mais bela, como também a mais atraente, a mais agradável, aquela que proporciona prazer pela presença, é um encanto para os olhos e um bom sentir no coração.
Diante de tais afirmações, creio nem ser necessário esmiuçar sobre os seus dotes físicos, intelectuais, humanitários, apenas dizer em ligeira síntese o que é capaz de torná-la a mais bela de todas.
Em primeiro lugar, ela tem o dom especial de reconhecer o outro, jamais deixa de cumprimentar e nem esquece o nome. Ao citar o nome, logicamente que o outro se sente importante e fica receptivo a tudo o que ela quiser falar em seguida.
Em segundo lugar, ao se dirigir ao outro para falar ou ouvir, jamais baixa o olhar, leva-o para outra direção ou procura fingir que nem sente aquela presença. Encarando de olho a olho, de semblante a semblante, ela passa uma sinceridade pouco vista nas outras pessoas.
Em terceiro lugar, porque ela sabe ouvir, falar, não atropela as considerações do outro, espera o seu momento certo para arrazoar. E ao ponderar, jamais altera a voz nem excede nas suas palavras. Se o outro procura exagerar, gritar, dar um tom mais agressivo ao diálogo, ela simplesmente dá o assunto por encerrado e pede licença para sair. E sai.
Não permite que o diálogo se transforme em briga ou conflito, procura sempre colocar a conversa dentro dos limites do que seja importante ser tratado ali. Por consequencia, não tolera e nem admite que o outro faça de um momento de descontentamento a oportunidade para inventar, mentir, procurar ferir gratuitamente.
Não fala de boca cheia e nem enche demais a boca em qualquer situação. Se por acaso estiver se alimentando quando o outro chegar e a ela se dirigir, acena pedindo um momento e somente depois que estiver com a boca totalmente livre se dirige ao interlocutor.
Preza e prega a boa educação nas relações sociais e até no meio familiar e perante as pessoas mais íntimas. Não utiliza palavras chulas, e com isto já deixando claro que não aceita ouvir baixarias; não faz brincadeiras de mau gosto porque sabe respeitar o sentimento do outro, sua privacidade e sua honra; não pergunta além do necessário e jamais procurar entrar na seara daquilo que somente a pessoa deve resguardar.
Por ser adepta da boa educação, cumprimenta todos os conhecidos, sempre faz uma reverência especial aos mais velhos, está sempre disposta a ajudar no que for necessário. Corre ou grita para avisar quando vê alguém em perigo, se dirige até o local para prestar a assistência que for necessária e depois disso ainda procura acompanhar seu estado de recuperação, muitas vezes nascendo daí uma grande amizade.
Gosta de reafirmar as amizades oferecendo presentes aos amigos, mas nada de brindar com coisas caras e luxuosas. Suas lembrancinhas se resumem a pequeninas conchas do mar, diademas artesanais, folhas secas envernizadas e com poemas que ela mesma escreve, belas quinquilharias que encontra nas feiras de artesanato, incensos, um cartão, uma fotografia.
Escolhe dias em finais de semana especialmente para prestar serviços comunitários. E assim sobe favelas, visita morros, caminha por vielas empobrecidas, entra em pequenas salas, se dirige a pátios e ao sombreado de arvoredos para ensinar aos mais velhos os deliciosos mistérios da leitura e da escrita, para brincar de roda com crianças, para dar palestras sobre assuntos interessantes.
Por ser a mais bela de todas, gosta de andar toda pronta, perfumada, arrumada. E toda pronta com um vestidinho simples e folgado, uma calça jeans e uma blusinha, tendo aos pés uma sandália sem enfeites ou simplesmente uma havaiana, que é do que gosta mais. Sem usar qualquer maquiagem, solta o seu cabelo moreno e não há deusa do entardecer mais bela. O vento e a brisa lhes chegam e não passam, ficam rodopiando ao redor para sentir seu doce perfume de alfazema do campo.
Já escreveu um livro que continua guardado. Trata sobre a vida, os sonhos e os planos de uma menina de quinze anos, doce como a flor da mais bela estação, um anjo de candura e beleza, de quinze anos e de nome Brisa. Ou outro nome, que bem pode ser o seu.



Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com
  

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