TODO GOVERNANTE ODEIA A EDUCAÇÃO, O CONHECIMENTO E O SABER
Rangel Alves da Costa*
Desde os tempos mais antigos, desde as primeiras guerras de conquistas para a obtenção e afirmação de poder, tudo mundo sabe que a dominação se sustenta através da imposição, do medo, do subjugamento, da submissão. Por consequencia, tudo que vise fragilizar a força de domínio será tido como grave ameaça a ser debelada.
Daí surgir a indagação: quem poderá elevar a voz para mostrar os podres das tiranias, dos autoritarismos, das ditaduras, senão aquelas pessoas engajadas politicamente e que abram a boca, escrevam e espalhem ideais, tendo por suporte o conhecimento? Conhecendo logo se deixa de simplesmente aceitar e procura apontar aquilo que está errado. E fará bem ao governante ter alguém que possa ser pedra e espinho no seu caminho?
Claro que não. Não são raros os casos em que tiranos mandaram para o pelotão de fuzilamento intelectuais contrários ao seu regime, àquilo que impunham como verdade absoluta. E isto porque a intelectualidade, uma classe de conhecimento privilegiado, apontava, até cientificamente, os erros, abusos e absurdos então considerados como política de Estado.
Num tempo mais antigo, as pessoas de maior formação educacional, as denominadas cabeças pensantes, tinham de inventar estratégias mirabolantes para expressar suas ideias e seus inconformismos. Reuniam-se às escondidas nos porões escurecidos e ali redigiam panfletos e manifestos atacando as vilanias, as corrupções e as atrocidades do regime. E isto só era possível porque lhes foi permitido ter uma educação, adentrar no mundo das letras e das ideias, formar uma conscientização crítica da realidade que os rodeava.
Logo se imagina, então, que ao chegar um daqueles panfletos aos olhos do governante tirano aquele escrito se revestia de verdadeiro punhal dilacerador. Ele se via ali, lia sobre suas maldades, seus roubos, suas atrocidades e até reconhecia aquilo tudo como verdadeiro, mas se repetindo que a ninguém era dado o direito de se manifestar contrariamente ao que fizesse ou deixasse de fazer. Então mandava caçar um a um e tirá-los de vez do seu caminho.
Logicamente que atualmente não é este o mecanismo mais usado, ainda que persistam as perseguições aos ditos inimigos do poder. Mas a verdade é que revestido de outras armas, nenhum governante tolera que seu governo e o poder que exercem sejam contraditos por quem quer que seja. Continuam perseguindo, continuam arrumando culpados, culpando-os e incriminando-os. Porém, o que mais se observa nos dias atuais é a utilização de uma vergonhosa arma para incapacitar as pessoas para uma visão crítica das mazelas governamentais.
Acreditem se quiser, mas a educação é a poderosa arma atualmente utilizada pelos governantes para que a sociedade se reproduza analfabeta, acrítica, alienada, sem inteligência e sem adequado poder de conscientização. Como observado, confrontando todos os princípios, a educação oferecida serve apenas para justificar o mínimo que o governo possa oferecer em termos de produção de conhecimentos. No caso brasileiro, a lei constitucional diz apenas que a educação deva ser de qualidade, porém não obriga o governante a oferecê-la nesta condição.
Daí se depreende que a educação oferecida e alardeada como de qualidade e para todos não passa de um mecanismo de ludibriamento. Todos conhecem a realidade educacional brasileira, que é criticada em todos os sentidos e nunca se fez nada para reverter de vez essa triste e caótica situação. Mas por que, se uma educação de qualidade não interessa ao governo? Precisamente pelo que foi dito acima: todo governante é inimigo do conhecimento, do saber, da crítica. E tudo isso só é possível através da educação. Seria como armar o inimigo para atacá-lo.
Ora, só tem a capacidade de se contrapor ao poder e mostrar o mar de lama em que se assenta aquele que tem o discernimento maior que o povo humilde e subjugado, sem a luz do conhecimento que o torne capaz de indignar-se. O povo humilhado sofre calado, apenas vê e sente, o que seria diferente se lhe houvesse dado condições de, através do conhecimento, conhecer melhor a realidade em que vive.
A educação possibilita o surgimento no indivíduo de consciência crítica, e isso é como um punhal para o governante; o conhecimento faz com que o indivíduo se contraponha às ações nefastas do governante, e isso é veneno no seu manjar; o saber tem o dom de qualificar e desqualificar o governante perante todas as suas atitudes, e isso soa como uma lástima.
Portanto, a educação de qualidade é uma mentira intencionalmente provocada, sob os auspícios do governante que precisa ter no analfabetismo, na ignorância do povo, o seu elemento básico de sustentação. Ademais, não seria interessante que o indivíduo, através da educação, se libertasse das esmolas eleitoreiras e assistencialistas patrocinadas pelo governo.
Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
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